Campeonato Brasileiro: Chegou a hora de rever a fórmula de disputa? - Parte 3
Chegamos a terceira parte do estudo sobre a fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro. Na primeira parte fiz um comparativo das maiores médias de público do futebol mundial, onde o Brasil está na oitava posição ao final da temporada passada, bem como questionei a questão do Flamengo ser o time que realmente consegue aumentar a média quando tem boa performance no campeonato, além de demonstrar que a Liga Mexicana é a quinta maior média mundial. Na segunda parte determinei algumas premissas que pretendo utilizar como propostas de mudanças na fórmula de disputa.
Desenvolvendo um pouco mais as bases, a primeira a ser compara é o PIB per capta do TOP 10 de média de público.
Como já informado em outros estudos, vários autores mencionam que o PIB e as questões sócio econômicas são premissas fundamentais para o comparecimento de público nos jogos. Retomando o ranking de média de público, na tabela 1 consta a estimativa do PIB per capta do TOP 10 mundial tendo como base as últimas temporadas de cada um dos respectivos países:
Podemos observar que, nos países considerados do primeiro mundo, existe uma coerência entre o PIB per capta e a média de público no TOP 4. O México aparece como destaque na sexta posição mesmo com metade do PIB per capta da Itália e da França.
No mesmo quadro verificamos que o PIB per capta brasileiro é 22% inferior ao dos mexicanos. Portanto, quais seriam os motivos dos mexicanos comparecerem aos jogos em maior número do que os brasileiros? Uma das hipóteses pode ser a fórmula de disputa?
A próxima análise é referente a concentração de torcedores dos times com maior comparecimento de público aos jogos em comparação com o total e com o time de menor comparecimento baseado na última temporada dos respectivos países, conforme tabela 2:
Novamente o México é o destaque nos três quesitos, pois tem uma das menores porcentagens entre o time com maior presença de público em comparação ao total de público, similar aos alemães e ingleses, a segunda menor relação entre o time com maior e menor público e está na média entre os times que somam 50% do total de público. Juntamente com a Bundesliga, esse número é ainda maior em termos relativos já que são 18 times que disputam os dois campeonatos.
Por outro lado o Brasil está no lado oposto, sendo a segunda maior relação entre o o time com maior presença de público em comparação ao total de público, a segunda maior relação entre o time com maior e menor público, demonstrando uma maior concentração de presença de público em menos times assim como na Espanha.
Novamente o México é o destaque nos três quesitos, pois tem uma das menores porcentagens entre o time com maior presença de público em comparação ao total de público, similar aos alemães e ingleses, a segunda menor relação entre o time com maior e menor público e está na média entre os times que somam 50% do total de público. Juntamente com a Bundesliga, esse número é ainda maior em termos relativos já que são 18 times que disputam os dois campeonatos.
Por outro lado o Brasil está no lado oposto, sendo a segunda maior relação entre o o time com maior presença de público em comparação ao total de público, a segunda maior relação entre o time com maior e menor público, demonstrando uma maior concentração de presença de público em menos times assim como na Espanha.
Mais uma vez, surgem as indagações:
- Quais seriam os motivos dos mexicanos comparecerem aos jogos em maior número do que os brasileiros? Uma das hipóteses pode ser a fórmula de disputa?
- Menor relação entre o time com maior e o menor presença de público significa que existem menos jogos com menor interesse, aumentando a média de público?
A próxima análise é o impacto do Flamengo na média de público dos campeonatos brasileiros. Conforme o relatório "É disso que o povo gosta" (Golden Goal,2007), quanto melhor for o desempenho do Flamengo, maior a média de público no campeonato.
Desde 1971, com a consolidação definitiva do Campeonato Brasileiro pela CBD, apenas em três campeonatos do Top 10 (1971, 1972 e 1984) o Mengão não foi campeão nem disputou o título. Nos demais campeonatos o Flamengo ganhou seis e foi vice em outro conforme a tabela abaixo:
Nos últimos dois anos, que tiveram aumento mais significativo nas médias de público, os jogos do Flamengo como mandante e como visitante tiveram um impacto de 8,3% em 2019 e 6,0% em 2018. Apenas como mandante o peso do Flamengo foi de 13,3% do total de público.
Baseado nesses dados, o desafio é:
- Como conseguir aumentar as médias de público do Campeonato Brasileiro sem depender apenas do desempenho do Flamengo?
Na segunda parte do estudo, o quesito cultural foi um dos pilares mencionados. De acordo com o estudo "É disso que o povo gosta" (Golden Goal,2007), os dados abaixo demonstram como o torcedor brasileiro percebe mais valor nos jogos finais e decisivos:
Com a mudança de forma de disputa para pontos corridos, o torcedor não tem mais como aguardar as finais. O comportamento foi alterado em relação aos jogos finais, mas por outro lado, o valor do jogo decisivo foi mantido para os times que disputam o título e os que disputam as quatro vagas para a fase de grupos da Copa Libertadores conforme abaixo:
A média dos últimos cinco anos aumentou em relação a média geral dos pontos corridos, que é de 15.219. Portanto, com base nos dados acima surgem as seguintes questões:
- Como conseguir aumentar as médias de público do Campeonato Brasileiro sem depender apenas do desempenho do Flamengo?
Na segunda parte do estudo, o quesito cultural foi um dos pilares mencionados. De acordo com o estudo "É disso que o povo gosta" (Golden Goal,2007), os dados abaixo demonstram como o torcedor brasileiro percebe mais valor nos jogos finais e decisivos:
Fase
|
Média de
Público (1971 – 2002)
|
|
1
|
Final
|
72.300
|
2
|
Semifinal
|
66.100
|
3
|
Oitavas de Final
|
51.300
|
4
|
Quartas de Final
|
40.400
|
5
|
Fase 3
|
34.800
|
6
|
Fase 2
|
19.200
|
7
|
Fase 1
|
15.700
|
8
|
Média Geral
|
14.555
|
Com a mudança de forma de disputa para pontos corridos, o torcedor não tem mais como aguardar as finais. O comportamento foi alterado em relação aos jogos finais, mas por outro lado, o valor do jogo decisivo foi mantido para os times que disputam o título e os que disputam as quatro vagas para a fase de grupos da Copa Libertadores conforme abaixo:
Média de
Público (2014 -2019)
|
||
1
|
Campão
|
37.301
|
2
|
G4
|
26.993
|
3
|
Média de Público
|
17.145
|
A média dos últimos cinco anos aumentou em relação a média geral dos pontos corridos, que é de 15.219. Portanto, com base nos dados acima surgem as seguintes questões:
- O torcedor brasileiro não valoriza todos os jogos do seu time independente da posição do seu time do campeonato e comparece aos jogos apenas quando vale o título ou tem algo maior em disputa independente da fórmula de disputa?
- O que seria mais impactante para uma mudança de percepção de valor do torcedor: ações mais assertivas/ comerciais por parte dos times ou a mudança da fórmula de disputa?
Finalizando os quesitos e conforme mencionado na segunda parte do estudo, a questão da escassez precisa ser avaliada. Com base no TOP 10 de média de público do campeonato brasileiro, segue uma nova tabela com a média de público com o número de jogos disputados em cada uma das temporadas:
Ano
|
Média de
Público
|
Número
de Jogos
|
|
1
|
1983
|
22.955
|
318
|
2
|
2019
|
21.242
|
380
|
3
|
1987
|
20.877
|
126
|
4
|
1980
|
20.792
|
307
|
5
|
1971
|
20.360
|
229
|
6
|
1982
|
19.808
|
286
|
7
|
2018
|
18.867
|
380
|
8
|
1984
|
18.523
|
306
|
9
|
2009
|
17.867
|
380
|
10
|
1972
|
17.591
|
352
|
Com exceção dos anos de 2009, 2018 e 2018, nos outros sete campeonatos o número de jogos bem como a fórmula de disputa eram via os famosos mata mata. É necessário mencionar que todos os estádios brasileiros tiveram reduções de capacidade devido a adequação de segurança, além das novas arenas, que são de menor capacidade em comparação aos grandes estádios do Brasil até o final dos anos 90.
Para se avaliar realidades atuais, na tabela abaixo podemos ver novamente o TOP 10 de média de público mundial e os seus respectivos números de jogos:
Liga
|
Média de
Público
|
Número
de Jogos
|
|
1
|
Bundesliga (ALE)
|
44.646
|
306
|
2
|
Premiere League (ING)
|
38.168
|
380
|
3
|
LaLiga (ESP)
|
26.811
|
380
|
4
|
Série A (ITA)
|
25.237
|
380
|
5
|
Superligue (CHI)
|
23.985
|
240
|
6
|
Liga MX (MEX)
|
23.916
|
334
|
7
|
Ligue 1 (FRA)
|
22.799
|
306
|
8
|
Brasileirão (BRA)
|
22.464
|
380
|
9
|
MLS (EUA)
|
21.704
|
421
|
10
|
Super Lig (TUR)
|
19.361
|
306
|
A Bundesliga possui maior média de público com menor número de jogos, bem como a Liga MX, com fórmula de disputa via playoffs, também consegue boa média, praticamente empatado com a Superligue da China.
A LaLiga e a Serie A são a terceira e quarta maiores médias respectivamente pois, conforme a tabela 2, são as maiores concentrações de público em menor número de times, algo que os colocam entre as maiores médias mas muito mais dependentes dos grandes times do que na Alemanha e Inglaterra.
Devido a esta explanação é possível chegar a seguinte indagação:
- Quanto menor o número de jogos pode impactar no aumento da média de público?
- Quanto a menor a maior quantidade de times com maior número de torcedores nos seus jogos?
Com base nesses quatro quesitos, no próximo post efetuarei algumas sugestões de mudanças na fórmula de disputa do campeonato brasileiro.
Aguardem.
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