Quatro observações sobre a fase de grupos da Copa 2022





A Copa do Mundo com menor tempo entre os jogos dos últimos 20 anos já encerrou a fase de grupos após 20 dias, com uma média de 3 dias de intervalo entre cada rodada. Devido ao pouco tempo de recuperação, algumas seleções pouparam vários jogadores na terceira rodada, visando melhor recuperação para manter uma maior intensidade nos jogos eliminatórios que se iniciam neste sábado. Com esta estratégia alguns jogos tiveram resultados surpreendentes para a grande maioria e que impactaram a classificação final de cada grupo.

Após a maratona de jogos da fase de grupos algumas observações podem servir de base para explicações e compreensão do momento atual do futebol mundial:

1) Universalização do conhecimento

Com as tecnologias atuais, publicações, blogs, podcasts, capacitação, além da internacionalização dos principais campeonatos de futebol para todas as regiões do mundo, o conhecimento está ao alcance de todos e foi possível observar que todas as 32 equipes da fase de grupos tinham uma boa organização tática, boa qualidade técnica dos jogadores, tornando os jogos bem equilibrados e disputados, tanto que poucos jogos tiveram resultados com mais de 2 gols de diferença.

2) Influência das grandes ligas

Como as 5 principais ligas do mundo (Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França) são as ligas com maior faturamento, além de outras ligas competitivas da Europa (Holanda, Portugal) também terem faturamento maior do que outros países de fora do continente, praticamente todos os jogadores das 32 seleções jogam no mais alto nível de futebol da atualidade. Quando esses jogadores vão para suas respectivas seleções, o nível técnico e qualidade do jogo é absorvido, o que acaba trazendo um equilíbrio nos jogos.

3) Força Coletiva

O coletivo nunca esteve tão influente no jogo em detrimento das individualidades. Para se conseguir o melhor desempenho coletivo é necessário muito treino em conjunto, os jogadores da atualidade precisam mecanizar os movimentos. Por isso é possível perceber a diferença coletiva entre clubes e seleções. Como as seleções não têm o mesmo tempo de trabalho do conjunto, as individualidades também sofrem as consequências, o que pode nivelar jogos entre seleções teoricamente superiores às com menos qualidade individual. 

Uma das soluções é ter a base formada com jogadores de um mesmo clube como Arábia Saudita (Al Hilal), Alemanha (Bayer de Munique), Espanha (Barcelona). Os árabes conseguiram fazer uma boa Copa, mas as individualidades não fazem a diferença quando enfrentam seleções mais fortes mas, mesmo assim, conseguiram vencer a forte Argentina. 

Alemães e espanhóis possuem um coletivo forte mas, em ambos os clube, os atacantes que desequilibram são estrangeiros e, por mais que tenha uma vantagem competitiva devido ao coletivo, a falta de atacantes mais letais pesa negativamente.

Outra solução é ter uma defesa sólida, algo que praticamente todas as seleções possuem, devido ao conhecimento universal que facilita a implementação de um sistema defensivo bem treinado mesmo sem grandes individualidades. O resultado é possível de se observar pela dificuldade que todas as seleções mais fortes tiveram para furar sistemas defensivos. A média de gols da Copa do Catar é a quarta pior da história até o momento, com 2,5 gols/jogo. Faltando 16 jogos para terminar a competição e com a tendência de jogos ainda mais equilibrados, há uma boa possibilidade da média de gols cair ainda mais.

4) Fator anímico

Com o eurocentrismo do futebol iniciado nos anos 80 e consolidado a partir de 2000, a impressão é que, para os europeus, o fator anímico não tem grande influência tanto para os jogadores como para os torcedores. Esperar um algo mais, dedicação, "raça", "dar o sangue" dos europeus é algo muito raro, talvez devido a percepção de já estarem numa posição superior, dominante, algo cultural que permeia há séculos sua população.

Por outro lado, para seleções dos outros continentes, devido aos motivos acima, acabam buscando no fator anímico esta superação, como querendo demonstrar que é possível dentro do futebol equiparar forças, honrar seus países, muitos deles colonizados por europeus. A vitória da Tunísia sobre a França foi um desses exemplos. 

Esses quatro temas podem ser aprofundados e também podem ter outros temas a serem inseridos na análise mas, a partir das oitavas de final o equilíbrio será maior ainda, pois qualquer detalhe poderá definir o jogo como uma decisão do VAR, fatores emocionais, individualidade dos jogadores, a força do elenco, tudo isso somado aos quatro temas acima descritos.

Para finalizar, seguem alguns dados baseados no histórico estatístico das Copas:

1) Nas últimas 5 copas a seleção vencedora estava entre as 4 com maior valor de elenco, sendo que em 3 o campeão foi a seleção com maior valor de elenco;

2) O campeão mundial terminou invicto e na primeira colocação do grupo em 18 das 22 edições;

Como qualquer Copa pode ter surpresas, o "Sobrenatural de Almeida" sempre pode entrar em campo mas, apesar do ditado popular que o futebol é uma "caixinha de surpresas", há uma certa lógica que podemos tomar como base.

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