A Copa Libertadores está se transformando numa Copa Roca de Clubes?

Nesta semana se encerrou a fase de grupos da Copa Libertadores da América com predomínio dos clubes argentinos e brasileiros, com 6 clubes dos dois respectivos países classificados para as oitavas de final.

O aumento das cotas de TV desde 2017 e do número de clubes dos dois gigantes sul-americanos além da grande diferença dos diretos de TV do Brasileirão em relação aos outros países do continente podem servir de parâmetro para explicar este predomínio em termos de clubes classificados.

Para termos uma visão mais ampla dos classificados para as oitavas de final fiz uma análise sobre as 6 edições no modelo atual desde 2017 em comparação com as 6 edições anteriores para verificar outras possíveis mudanças com o cenário atual.

Vamos aos dados:


A primeira diferença que podemos observar é que havia a participação dos clubes mexicanos até 2016 e, no período observado, a média de clubes mexicanos classificados para as oitavas de final era de 1,5/ edição.

Os clubes argentinos (3,7/edição)  e brasileiros (4,7/ edição) eram dominantes, mas a média era de 52,5% dos participantes nas oitavas de final.

Outra observação interessante é o número de países sem classificados. A média era de aproximadamente 3 países sem participação nas oitavas por edição. O que levava a uma participação mais democrática dos países do continente nos play-offs.

Com uma participação mais democrática as finais também foram mais democráticas com participação de clubes brasileiros (3 edições), argentinos (3) além de uma participação de uruguaios, paraguaios, mexicanos, colombianos e equatorianos.

Com as mudanças efetuadas à partir de 2017 os clubes mexicanos deixaram de participar da competição e houve um aumento de vagas para os demais países do continente. Neste novo formato Argentina e Brasil tiveram um aumento entre 2 a 3 clubes por edição. 

A seguir veremos as mudanças à partir de 2017:


Argentinos (4,8/edição) e brasileiros (6,0 / edição) saltaram para uma média de 67,5% dos participantes das oitavas de final, um adicional de 2,4 clubes/edição, tomando a participação que anteriormente era dos mexicanos e avançando além.

Com este avanço do número de argentinos e brasileiros nas oitavas de final houve uma menor democratização de países participantes, saltando de 3 para 5 países sem participar dos play-offs.

Outros pontos importantes que também demonstra o atual nível técnico de alguns países são os seguintes desde:

Chile: caiu de uma média de 1 participação a cada 2 anos nas oitavas para 1 participação a cada 3 anos.

Colômbia: caiu de uma média de cerca de 1 clube em cada edição nas oitavas para 1 classificação a cada 3 anos.

Equador: subiu de uma média de 1 clube em cada edição nas oitavas para 1,5.

Uruguai: caiu de uma média de aproximadamente 1 participação por edição 1 classificação a cada 2 anos.

Peruanos e venezuelanos não tiveram nenhum clube classificado nas oitavas desde 2017.

Com uma participação mais dominante devido ao aumento de clubes argentinos e brasileiros tanto na fase de grupos como nos play-offs, à partir de 2017 apenas brasileiros e argentinos participaram das finais, sendo uma edição com final entre dois clubes argentinos e as duas últimas com dois clubes brasileiros.

Desde 2017 em 3 das 6 edições foram 12 clubes argentinos e brasileiros nas oitavas de final, fenômeno que se repetiu em 2022. A probabilidade de ocorrer novamente uma final apenas com clubes dos dois países é praticamente de 100%. Além disso é provável que River Plate, Boca Juniores, Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras sejam os finalistas. Quatro destes cinco clubes foram os finalistas das quatro últimas edições.

Para os demais clubes a estratégia a ser adotada é apenas participar visando as cotas de participação que já os colocam em vantagem em relação aos seus competidores locais além de colocar seus principais atletas numa vitrine para negociações futuras?

Qual será o futuro em termos continentais de clubes gigantes como os uruguaios Nacional e Peñarol, o grande Olímpia do Paraguai além da marcar fortes como Atlético Nacional de Medelín, Colo Colo do Chile?

Independiente, Racing e San Lorenzo, que fazem parte dos 5 grandes argentinos junto com Boca e River, todos campões da Libertadores serão coadjuvantes à partir deste atual cenário?

As torcidas de Internacional, Corinthians, São Paulo, Santos, Grêmio, Vasco da Gama e Cruzeiro, todos campeões da Libertadores, irão aceitar uma participação honesta e serem eliminados pelos gigantes sul-americanos que estão abrindo um abismo para essas grandes marcas.

Por mais que a Conmebol conseguiu valorizar muito a competição com a nova gestão, esse cenário será atrativo no médio ou longo prazo caso este torneio, que sempre teve o imprevisto como grande charme, se torne previsível como está acontecendo na Champions League, transformando a Copa Libertadores da América numa Copa Roca de clubes?

Não tenho as respostas e gostaria de convidar o leitor a esta reflexão.


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