As oportunidades e os desafios do esporte após o Coronavírus



O mundo do esporte está parado há praticamente 20 dias e, num cenário otimista, provavelmente não terá normalizada a situação antes do final de maio. Independentemente da data do retorno das competições, ainda serão necessárias 3 a 4 semanas de uma nova pré temporada, demonstrando que, antes da segunda quinzena de maio, provavelmente nada irá mudar. A última e aguardada decisão foi o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio para 2021, pois as demais competições ou estão suspensas, principalmente no futebol, ou canceladas, como a temporada 19/20 da NBA.

Sabemos que projetar qualquer cenário é um mero exercício de futurologia, mas juntando o que os cientistas especializados na área de infectologia estão projetando, bem como algumas das principais vozes do futebol mundial estão dizendo, é possível fazer algumas análises.

De acordo com o Imperial College London, um dos centros de pesquisas de maior relevância sobre o Coronavírus, provavelmente mais medidas de confinamento poderão ser aplicadas quando os casos positivos do vírus atingirem novamente patamares de 100 pessoas contaminadas. Nesses caos os países poderiam fechar novamente escolas e universidades, além de exigir redução de 75% nos contatos sociais. Essas medidas poderiam ser adotadas 2 a 3 vezes ao ano, por um ou dois meses. 

No mesmo artigo os autores preveem sérios impactos nos negócios relacionados a restaurantes, cafés, bares, discotecas, academias, hotéis, teatros, cinemas, galerias de arte, shopping centers, feiras de artesanato, museus, músicos e outros artistas, instalações esportivas (e equipes esportivas), instalações para conferências (e produtores de conferências), cruzeiros marítimos, companhias aéreas, transporte público, escolas particulares, creches.

De acordo com o pesquisador e doutor em microbiologia pela USP, Atila Iamarino, o mundo mudou, e aquele mundo de antes do coronavírus não existe mais. O pesquisador cita que "a vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade."

Portanto, o mundo como um todo e, consequentemente, o negócio do esporte, vai passar por sérias restrições que provavelmente afetarão os negócios em todos as áreas dentro do segmento, trazendo sérias consequências e também novos desafios.

O presidente da FIFA, Gianni Infantino já deu declarações sobre a necessidade de reformar o futebol mundial dando um passo atrás, com diferentes formulas de disputa, menos torneios, porém mais interessantes.

Na mesma linha de raciocínio, o respeitado treinador italiano Carlo Ancelotti em recente entrevista, fez uma análise onde ele menciona que "em breve a economia irá mudar, e isso em todos os níveis: os direitos de transmissão serão menores, os jogadores e técnicos ganharão menos, os ingressos custarão menos, porque as pessoas terão menos dinheiro. Será um futebol mais verdadeiro e talvez seja tudo melhor”. 

O mundo ocidental ainda está de quarentena, mas os chineses já começam aos poucos voltar ao normal. Já buscando se antecipar às possíveis mudanças no cenário esportivo, Greg Turner, fundador da Shenzhen High Performance Event Management fez algumas possíveis medidas que a China pode tomar para eventos ao vivo para três diferentes stakeholders:

Público:
- Ingressos nominais em cada ingresso para cada cadeira;
- Ingressos nominais para entrar na instalação, provavelmente com um app conectado com órgão de saúde oficial;
- App pode gerar um QR Code que deverá ser apresentado na entrada juntamente com o ingresso;
- Medidor de temperatura de cada pessoa nas entradas;
- Steward devem confirmar se a pessoa está sentada na cadeira que consta no ingresso;
- Utilização de máscaras durante todo o tempo;
- Sem demora para sair do local após final do evento.

Instalação:
- Total desinfecção antes e depois do evento;
- Capacidade limitada, exemplo: uma cadeira vazia entre cada pessoa e uma fileira vazia;
- Sem venda de alimentos, bebidas;
- Controle nos portões para evitar acúmulo de pessoas na entrada e na saída;
- Salas de quarentena;
- Múltiplos locais para higienização, com sabão e papéis toalha em todos os locais de higienização;
- Máscara para todo o staff.

Promotores do evento:
- Limitação dos tipos e tamanho do evento;
- Estrito controle de artistas, atletas e outros vindos de outros países;
- Controle da equipe de apoio incluindo avaliação médica e histórico de viagem;
- Acesso limitado de pessoas aos vestiários / camarins;
- Redução do tempo de montagem de instalação e da força de trabalho;
- Exigência de equipe médica e ambulância;
- Máscaras e material de higienização para todo staff.

Caso esse cenário for adotada os custos de cada evento aumentarão além de uma já esperada queda de receitas com alimentação, bebidas e souvenirs e também com arrecadação como um todo, pois a ocupação das instalações estarão bem reduzidas, sem contar com o risco de que, mesmo com capacidade reduzida, não ser totalmente ocupada devido aos receios do público em locais com grande circulação de pessoas.

Os desafios serão enormes, pois com custos mais altos devido a possíveis exigências como as acima projetadas e com a provável queda de receitas, os gestores esportivos deverão ter menores receitas provenientes de matchday bem como possível redução nas cotas de TV e patrocínio. Nesse cenário, como comentado por Carlo Ancellotti, todos os envolvidos terão que rever os valores atuais de salários, contratos de TV e patrocínio além do preço dos ingressos e produtos.

Caberá aos gestores buscarem novas fontes de receita ou adequar as despesas, como por exemplo:

Torcedores
- Criação de mais conteúdos em canais pagos no Youtube ou em plataformas de streaming;
- Transmissões dos jogos em realidade virtual com acesso via assinatura ou compra de ingressos;
- Criação de rede de franquia de bares/ cafés temáticos para transmissão dos jogos;
- Aumentar produtos/serviços dos planos de sócios torcedores para além de benefícios na prioridade e desconto na compra de ingressos;
- Aumento da variedade de produtos e serviços para os torcedores;
- Aumento da base de torcedores e fãs para além das fronteiras da cidade, estado e país;
- Atrair mais torcedores através de variáveis como jogadores/treinadores estrelas, times com estilo de jogo mais agradáveis de se assistir;
- Foco no eSport, com mais Fantasy Games e torneios virtuais.

Elenco
- Criação de um teto salarial para treinador e jogadores;
- Limitação de número de profissionais no elenco;
- Contratar jogadores/treinadores estrelas;
- Criar modelo de jogo mais atrativo.

Campeonato
- Redução do número de campeonatos;
- Redução do número de jogos;
- Alteração na fórmula de disputa.

O mundo não será mais como antes após o Coronavírus, mas segundo Albert Einstein "a crise é a maior benção que pode acontecer as pessoas e aos países, porque a crise traz progressos. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise se supera a si mesmo sem ter sido superado. Sem crises não há méritos. É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo vento é uma carícia. Falar da crise é promovê-la,e calar-se na crise é exaltar o conformismo. Em vez disto, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la."













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