Mecanismo F.C.

Na última quarta feira o Palmeiras fez o jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil. Antes do início da partida o narrador mencionou que era o trigésimo segundo jogo do alviverde na temporada. Este número elevado de partidas me chamou a atenção e resolvi fazer um comparativo com as principais ligas de futebol mundial.

Em fevereiro efetuei uma análise comparando o tempo de pré temporada  das principais ligas mundiais e o atual cenário do calendário do futebol brasileiro em termos do tempo de preparação antes do início da temporada. 

A análise a seguir é um desdobramento desta análise, uma avaliação sobre o número de jogos disputados em 18 semanas da temporada 2017/2018 das principais ligas da Europa, da Argentina e México e da temporada 2018 do Brasil e Estados Unidos, que realizam seus campeonatos durante janeiro e dezembro do mesmo ano. 

O time brasileiro utilizado como base foi o Palmeiras, por estar participando de todas as competições da temporada, assim como os grandes times da Europa e Américas.

Segue os ranking do número de jogos disputados em 18 semanas de temporada e quantas semanas livres cada time teria em suas respectivas ligas dentro desse período:

1) Brasil - 32 jogos / 2 semanas livres

(18J Estadual / 6J Liga/ 6J Libertadores / 2J Copa)

2) Estados Unidos - 24 jogos /  6 semanas livres

(18J Estadual / 6J Liga(15J Liga / 8J Concacaf Champions / 1J Copa)

3) México - 22 jogos /  7 semanas livres

(15J Liga / 6J Copa / 1J Super Copa)

4) Espanha - 22 jogos / 7 semanas livre

(13J Liga / 4J Champions League / 2J Super Copa Espanha / 2J Copa / 1J Super Copa UEFA)

5) Holanda - 21 jogos / 7,5 semanas livre

( 12J Liga / 4J Champions League / 4J Copa / 1J Super Copa Holanda)

6) Inglaterra - 20 jogos / 8 semanas livre

(12J Liga / 4J Champions League / 2J Copa da Liga / 1J Super Copa da Inglaterra / 1J Super Copa UEFA)

7) Itália - 19 jogos / 8,5 semanas livre

(14J Liga / 4J Champions League / 1J Super Copa Itália)

8) Alemanha - 19 jogos / 8,5 semanas livre

(13J Liga / 4J Champions League / 2J Copa/ 1J Super Copa Alemanha)

9) Portugal - 19 jogos / 8,5 semanas livre

(11J Liga / 4J Champions League / 3JJ Copa/ 1J Super Copa Portugal)

10) Argentina - 19 jogos / 8,5 semanas livre

(11J Liga / 8J Libertadores)

11) França - 18 jogos / 9 semanas livre

(13J Liga / 4J Champions League / 1J Super Copa França)

Muitos podem comentar que este ano é atípico devido a parada para a Copa do Mundo, mas se tomarmos a sequência do Palmeiras no ano passado o número de jogos em 18 semanas foi de 23 jogos. Portanto, seria o segundo no ranking acima.

Menos jogos provavelmente trazem os seguintes benefícios para os treinadores e jogadores:

- Mais semanas livres para treinamentos;

- Paradas para data FIFA sem prejudicar os times;

- Melhoria no aperfeiçoamento dos modelos de jogos;

- Melhor recuperação física dos jogadores;

- Manutenção dos treinadores e elencos por mais tempo;

- Menos lesões musculares.

Para o produto ofertado as vantagens de se ter menos jogos seria:

- Melhor qualidade técnica dos jogos;

- Jogos mais emocionantes;

- Times jogando com seus principais jogadores na maioria dos jogos;

- Mais torcedores no estádio;

- Valorização dos campeonatos;

- Surgimento de mais ídolos;

- Atrair jogadores importantes de outros mercados.

Enquanto os dirigentes não tomarem atitudes referente ao produto que está sendo ofertado para o torcedor brasileiro, as constatações do atual mecanismo são as que estamos percebendo a cada ano:

- Poucas semanas livres para treinamentos;

- Data FIFA sem interromper os campeonatos, prejudicando os times;

- Pouco aperfeiçoamento dos modelos de jogos;

- Pouco tempo de recuperação física dos jogadores;

- Aumento das lesões musculares.

- Baixa qualidade técnica dos jogos;

- Excesso de jogos e muitos de pouco interesse;

- Times poupando seus principais jogadores em muitos jogos;

- Baixa taxa de ocupação nos estádios;

- Desvalorização dos campeonatos;

- Poucos ídolos;

- Não atrair jogadores importantes de outros mercados.

Alguns dados coletados pela Pluri Consultoria demonstram quanto o produto futebol brasileiro está a cada ano perdendo valor e deixando de ser atrativo. Não há nenhum clube Brasileiro no Ranking dos 50 times com maior média de público do mundo, das Américas constam 5 times: América e Tigres (México), River e Boca (Argentina) e Seattle Sounders (EUA). Só o Corinthians está no TOP 100 Mundial. No TOP 50 das Américas só 7 times são brasileiros. O domínio é dos Mexicanos (16) seguidos dos Americanos (12) e Argentinos (11). 

Não deve ser coincidência que os mexicanos, argentinos e americanos tenham muito mais times acima dos brasileiros nos rankings de média de público Mundial e nas Américas. Baseado no ranking de número de jogos e nas possíveis consequências acima mencionadas, os fatos falam por si.

Na semana passada nos painéis do Conafut foi possível perceber que existe uma mudança positiva no atual cenário, mas a velocidade dessas mudanças precisam ser aceleradas. A atual visão do produto futebol no Brasil precisa ser revista urgentemente e de uma forma mais ampla pois caso contrário, a situação ficará cronicamente inviável.