A Terceira Margem



No último final de semana assisti ao documentário "A Terceira Margem". O filme narra a história do índio Thini-á Fulni-ô, que deixou sua pequena aldeia aos 15 anos e partiu para a cidade grande em busca do sonho da vida urbana. Decidido a retornar as suas antigas origens,  Thini-á Fulni-ô segue os passos de João Kramura, um homem que se tornou um nativo entre os Caiapós, ao ser criado na pelos índios após um sequestro.

Durante o documentário,tanto o índio Thini-á Fulni-ô como o falecido João Krumura passam por conflitos e dilemas entre a vida na comunidade indígena e os desafios e comodidades da vida do homem branco na cidade de Luciara no Mato Grosso. Os dilemas Thini-á Fulni-ô e João Kramura ficam ainda mais evidentes ao cruzarem as margens do Rio Xingu, que divide esses dois mundos.

A assistir aos últimos jogos do Flamengo e do Palmeiras fiquei com a impressão que os dirigentes e torcedores dos dois times estão no dilema de estarem cruzando as margens do Rio Xingu neste momento, passando pelos mesmos questionamentos entre dois mundos.

Ambos os times fizeram uma trabalhosa travessia em busca da sustentabilidade financeira e administrativa, sacrificando alguns anos de resultados esportivos em troca de uma situação mais sólida em termos estruturais.

Após cinco anos de uma gestão mais responsável, os dois times são reconhecidamente referências na gestão, com premiações como a da Ambev. Os resultados financeiros abaixo demonstram que o trabalho foi muito bem feito:

Flamengo
- sexto faturamento em 2012 com R$ 212 milhões ( déficit de R$ 60 milhões)
- primeiro faturamento em 2017 com R$ 649 milhões ( superávit de R$ 159 milhões)

Palmeiras
- quarto faturamento em 2012 com R$ 245 milhões ( superávit de de R$ 32 milhões)
- segundo faturamento em 2017 com R$ 531 milhões ( superávit de R$ 57 milhões)

Em termos de resultados esportivos, as conquistas no futebol ainda estão abaixo do esperado:

Flamengo: 01 Copa do Brasil , 02 Estaduais
Palmeiras: 01 Campeonato Brasileiro, 01 Copa do Brasil

Após cinco anos de gestão os dois times ainda estão aquém do esperado em termos de resultados esportivos no futebol, com muitas similaridades como interrupções de trabalhos o que acarreta problemas de formação de equipe, falta de um modelo de jogo, trocas constantes de treinadores, jogadores contratados por altos valores mas com expectativas mais altas do que estão desempenhando em campo.

Como contraponto, Grêmio e Corinthians, com faturamentos menores, estão conseguindo resultados esportivos superiores. Os dois times estão com gestão do futebol mais desenvolvidas e, diferentemente do Flamengo e Palmeiras,  possuem sequência de trabalhos que trazem como consequência uma equipe formada, modelo de jogo definido, manutenção de treinadores, jogadores contratados por valores mais baixos mas com expectativas superiores em termos de desempenho em campo.

Após três meses de temporada e sem conquista nos estaduais, Flamengo e Palmeiras continuam devendo, com falta de desempenho consistente em campo, incertezas sobre a manutenção dos treinadores e dúvidas sobre algumas contratações, gerando críticas e desconfianças do torcedor e de alguns conselheiros.

Ao enfrentar esse dilema entre qual caminho tomar, os exemplos de Corinthians e Grêmio deveriam servir como referência sobre a gestão do futebol, com um trabalho de longo prazo na formação de equipe, definições de modelo de jogo, contratações pontuais, sem grandes investimentos, além da promoção de jogadores das categorias de base.

Muitos questionam porque Flamengo e Palmeiras não conseguem performance consistente, mesmo com os altos investimentos e um dos motivos é exatamente o que fazem Corinthians e Grêmio na gestão do futebol.

João Kramura viveu como índio, mas quando voltou para a cidade, trazido pelos Irmãos Villas Boas, viveu em conflito constante entre a vida na natureza e em harmonia com os índios e as facilidades da cidade. Essa vida entre os dois mundos causou um enorme dilema por toda sua vida.

Por outro lado, Thini-á Fulni-ô, após 30 anos vivendo na cidade grande, decidiu voltar a viver na comunidade indígena. Suas raízes falaram mais alto, após várias decepções ao conviver com o homem branco. Ao cruzar as margens do Rio Xingu, sua expressão de convicção e serenidade sobre as suas escolhas dizem mais do que qualquer palavra.

Flamengo e Palmeiras devem seguir cruzando o Rio Xingu imaginário, e como Thini-á Fulni-ô, possam ter convicções em suas escolhas e decisões, tendo serenidade e que consigam implementar com sucesso uma melhor gestão do futebol. 

Corinthians e Grêmio estão em uma das margens do rio. Caso Flamengo e Palmeiras, que estão na outra margem, consigam ser mais eficientes na gestão do futebol, com certeza suas tribos comemorarão muitas conquistas em breve, Por outro lado, caso fiquem num constante dilema como João Kramura, suas tribos sempre estarão em estado de guerra, podendo causar graves problemas a serem enfrentados pelos chefes das tribos.


Thini-á Fulni-ô







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