Os desafios dos Programas de Sócio Torcedor no Brasil



Durante a semana foi divulgado queda no programa sócio torcedor do Flamengo. De acordo com o blog do Rodrigo Mattos a  falta de jogos com torcida da Libertadores e o esvaziamento do Carioca são os principais pontos de abandono. O departamento de marketing identificou outros problemas: falta de um estádio, política de preços de ingressos para jogos jogos de menor apelo, o sistema de atendimento do torcedor e as vantagens oferecidas ao membro que se associa, além de reclamações com política de diretoria.

Desde o ano passado estamos notando uma estagnação deste tipo de programa na grande maioria dos times brasileiros. Participei de um projeto visando melhorias para um dos maiores programas do gênero em um time da cidade de São Paulo, onde fizemos grupos focais e pesquisas on line, mas muitas das sugestões não foram implementadas.

O que pude perceber na opinião dos torcedores que responderam a pesquisa foram sugestões de melhorias de atendimento, mais serviços, produtos e experiências, além de planos mais interessantes para quem não vai aos jogos. 

Os planos de sócio torcedor são percebidos pelos usuários como um serviço de compra de ingressos com desconto e/ou prioridade na compra. Portanto estão atrelados diretamente à quem costuma frequentar jogos de futebol do seu time. Conforme mencionado no blog, jogos sem torcida na Libertadores, esvaziamento do Carioca, falta de estádio, preços mais baratos para jogos de menor apelo estão todos relacionados a serviços para quem frequenta estádios.

Pesquisas demonstram que preço do ingresso é um dos maiores fatores que afastam torcedores do estádio. Outras pesquisas concluem que o torcedor brasileiro vai ao estádio quando o time está ganhando, caso contrário a presença de público diminui.

Portanto, um dos desafios dos planos de sócio torcedor é ofertar produtos e serviços que atendam a necessidades de outros perfis de torcedores, não apenas aos que frequentam estádios, além de ofertar outros tipos de serviços e produtos para os atuais frequentadores.

Baseado em planos de alguns times do Brasil bem como de outros países, seguem abaixo algumas sugestões que poderiam ser implementadas nos atuais programas:

- Direito a voto: Internacional e Grêmio possuem base de torcedores regional e mesmo assim possuem grande número de sócios torcedores devido aos torcedores terem direito a vota para presidente do clube. Já o Seattle Sounders possui um plano onde os torcedores podem decidir junto com a diretoria precificações de ingressos, serviços e avaliar a gestão atual;

- Season Ticket: Corinthians e Botafogo já implementaram essa categoria de sócios torcedores em 2017, mas tiveram baixa adesão. Grande parte do sucesso de público nos grandes times da Europa e Estados Unidos é ter cerca de 50% dos ingressos da temporada já vendidos antecipadamente;

- Rating: alguns times como Palmeiras e Corinthians já possuem serviço de prioridade de compra, beneficiando os torcedores mais leais;

- Precificação: jogos menos atrativos deveriam ter preços promocionais visando manter estádio com alta taxa de ocupação. Os clubes deveriam trabalhar com tabelas de preços diferentes para níveis de times, horários, campeonatos, classificação na tabela, fase dos campeonatos, dias da semana entre outros;

- Rede de Descontos: o grande sucesso do Benfica, que por muitos anos foi o time com maior número de sócios torcedores do mundo, foi quando uma rede de postos de gasolina começou a fazer parte do plano. Serviços de alta demanda como combustíveis, celularesentre outros deveria fazer parte dos planos;

- Torcedores de outros estados/países: criar planos para que esse tipo de torcedor tenha direito a ir a alguns jogos por ano e entender quais os benefícios seriam atrativos para esse perfil de torcedor. Nos jogos na cidade dos torcedores de outros estados, ofertar serviços e ingressos prioritários, acesso aos jogadores etc;

- Torcedores que viajam: ofertar benefícios como descontos, gratuidades, bonificações em serviços para sócios torcedores que queiram viajar para assistir o time em jogos como visitante;

- Revenda de ingressos: visando manter alta a taxa de ocupação os torcedores poderiam disponibilizar suas cadeiras para o clube revender nos jogos que não poderão comparecer. Essa ação é muito comum nos Estados Unidos e Europa, pois o clube arrecada em dobro, o estádio não fica vazio e o torcedor também recebe parte da venda.

Sabemos que algumas das sugestões acima dependem de mudanças em estatuto ou possuem limitações devido aos contratos com parceiros gestores das arenas, mas está na hora de vermos os times começarem a ofertar outros tipos de produtos e serviços que possam atender a outros perfis de torcedores, não focando apenas nos que frequentam estádios, pois, caso contrário, as receitas com esse serviço tendem a se manter estagnadas no curto prazo e cair no médio prazo.







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