Os cães ladram, mas a caravana vai conseguir passar?



O blog volta a ativa no final de semana que deveria ser o reinício da temporada brasileira de futebol. O apito final dos jogos da surpreendente rodada 38 do Brasileirão, que teve disputa pelas duas últimas vagas da pré Libertadores, a definição dos dois últimos rebaixados, além do simbólico título de vice campeão, deveria ser o último jogo oficial em torneios nacionais até 17/02/2018.

Imagine ficar 74 dias sem uma partida oficial de futebol do seu time? 

Qual seria a adrenalina, a expectativa para voltar a assistir ao vivo os novos reforços após ver seu time excursionar por outros países em jogos amistosos de pré temporada?

Além dessa natural expectativa, o primeiro jogo da temporada seria um grande clássico nacional entre o campeão nacional e o campeão da copa da última temporada e logo em seguida um clássico internacional entre os campeões das duas competições internacionais do continente.

Esta pequena introdução reproduz o sentimento dos torcedores dos principais times europeus em cada início de temporada. 

Escassez 

A escassez de jogos nesse período seria por si um fator promocional suficiente para que houvesse muitas vendas de ingressos para os primeiros jogos ou para toda a temporada?

Segue abaixo o número de dias sem futebol desde a última rodada da temporada 2016/2017 até a primeira rodada das cinco principais ligas europeias da atual temporada, que terminará com a Copa do Mundo de 2018:

Espanha: 91
Alemanha: 89 
Itália: 82
Inglaterra: 81 
França: 75 
Brasil: 41 

No livro "Pep Guardiola: A Evolução", o grande treinador catalão enfatiza que a pré temporada é fundamental para que todos os conceitos táticos sejam trabalhados repetidamente para que os jogadores incorporem os movimentos, que durante a temporada serão cada vez mais aprimorados. 

Além disso toda a base do preparo físico é efetuada nesse período, evitando lesões durante a temporada, preparando os jogadores para estarem quase 100% no início da temporada.

Como complemento de todo esse trabalho as grandes marcas globais excursionam pelos mercados mundiais que consomem seus produtos, jogando torneios amistosos contra outros grandes times, como se fosse parte uma turnê mundial de uma grande banda de rock.

Portanto, o tempo de treinamento tático e físico, em conjunto com a exposição das marcas em outros mercados em jogos amistosos fazem parte de um período onde todas as engrenagens vão sendo desenvolvidos e aprimoradas para o início da temporada. 

Para se atingir alta performance em qualquer segmento, ter um preparo adequado é fundamental.

Atratividade

Após esse longo e importante período de aprimoramento, nada mais interessante do que jogos oficiais que despertem interesse de todo o mercado. Visando essa atratividade, tanto comercial como esportivo, a temporada oficial europeia inicia-se com as Supercopas nacionais e continentais. A temporada de 2017/2018 foi aberta com os seguintes jogos:

Inglaterra: Arsenal x Chelsea
Alemanha: Borússia Dortumund x Bayer de Munique
Espanha: Real Madrid x Barcelona
Itália: Juventus x Lázio
França: Mônaco x PSG

Por outro lado, os times brasileiros, após 30 dias de férias e apenas 11 dias de pré temporada em 2018, sem tempo de preparo tanto tático e físico, com elencos ainda em fase de montagem, sem possibilidade de excursionar para potenciais mercados visando expor suas marcas e fazerem amistosos com times de ponta, além da alta temperatura do alto verão brasileiro, inciam a temporada com campeonatos estaduais e com os seguintes jogos como atratividade:

Palmeiras x Santo André
São Bento x São Paulo (com time reserva)
Corinthians x Ponte Preta
Linense x Santos
Vasco x Bangu (com portões fechados)
Volta Redonda x Flamengo (com time reserva)
Botafogo x Madureira
Fluminense (com time reserva) x Macaé
Cruzeiro x Tupi
Boa Esporte x Atlético Mineiro (com time reserva)
São Luiz x Grêmio (com time reserva)
Internacional x Veranópolis

Imagine qual o potencial de gerar receitas caso houvesse tempo para torneios de pré temporada entre os grandes times brasileiros e sul americanos, com jogos amistosos preparatórios em mercados como as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil, ou nos Estados Unidos, Argentina, Chile, entre outros, durante a segunda quinzena de janeiro.

Para despertar ainda mais o interesse de todos os envolvidos com futebol, o primeiro jogo da temporada 2018 poderia ser Corinthians e Grêmio no Mané Garrincha , na Arena das Dunas ou Arena Amazônia.

Logo em seguida poderíamos ter Grêmio x Independiente jogando em Miami a Supercopa Sul Americana, abrindo a temporada internacional do continente.

Dessa forma seria muito provável que despertasse muito mais o interesse do torcedor para ver os jogos do seu time, tanto indo aos jogos como pela TV. 


Quantidade x Qualidade

De acordo com pesquisas, as quatro categorias gerais de fatores que influenciam a participação dos consumidores no estádio podem ser resumidas como: a) econômico (salário, PIB, tamanho da população), b) demográfico, c) atratividade do jogo e d) preferências individuais. 

O Brasil tem uma baixa renda per capta baixa em comparação às principais ligas mundiais de futebol. Realizei um estudo a respeito do poder de compra de ingressos no ano passado. Baseado na situação econômica, poder de compra, salário mínimo, PIB per capta, deveríamos ter menos jogos durante a temporada. Alguns estudos já demonstram que o ingresso no Brasil tem se mantido estável em comparação ao salário mínimo, mas o poder de compra do brasileiro é menor em comparação aos países mais desenvolvidos.

Com menor poder de compra os organizadores dos campeonatos deveriam reduzir o número de jogos, visando aumentar a atratividade, além de uma provável melhoria na qualidade dos jogos. O dados abaixo demonstram que nesse quesito também o Brasil está nadando contra a corrente:

Número de jogos nos primeiros 30 dias da temporada

Campeonato Paulista e Gaúcho: 8
Campeonato Carioca e Mineiro: 7
Inglaterra / Alemanha, Espanha / França: 5
Itália: 4

Estamos encerrando o primeiro mês da temporada no Brasil e o São Paulo já jogou 9 vezes, Grêmio e Atlético Mineiro 8 vezes. Com exceção do Vasco da Gama, que está disputando a fase pré Libertadores e o Grêmio, que jogou o primeiro jogo da Supercopa Sul-Americana, os demais jogos são de pouca atratividade.

Em comparação com a Europa, em 30 dias o Real Madrid também fez 9 jogos, mas 3 deles foram as decisões da Supercopa da UEFA e da Espanha, além de 01 jogo pela fase de grupos Champions League. O Liverpool e Barcelona fizeram 8 jogos, sendo que o time inglês disputou 2 jogos pela fase eliminatória da Champions League e um jogo da fase de grupos. O Barcelona jogou a final da Supercopa da Espanha contra o Real Madrid e um jogo pela fase de grupos da Champions League.

Menos jogos pelas rodadas iniciais dos campeonatos, jogos mais atrativos pela Champions League ou finais das Supercopas Nacionais ou Internacional deveriam são premissas para valorizar o produto e atrair mais torcedores na Europa.

Os campeonatos estaduais com excesso de jogos sem atrativos é a melhor maneira de se iniciar uma temporada? Menos é mais quando se fala e número de jogos, tanto em termos de qualidade como de maior presença de público nos estádios.

O que vemos ano após ano no futebol brasileiro são jogos com baixa atratividade em quase toda a temporada, o que faz com que o torcedor prefira os jogos da Copa do Brasil, Libertadores ou Sul-Americana. Além disso, com pouco tempo de preparo, a qualidade dos jogos fica comprometida, bem como o aumento do número de lesões durante a temporada.

Baixo rendimento tem como consequência maus resultados, que acaba comprometendo o trabalho do treinador, o que causa demissões precoces como vimos ano passado com Eduardo Batista no Palmeiras, até chegar a extremos como neste ano, onde já tivemos demissões de treinador no Atlético Mineiro e Botafogo.

O futebol é um grande produto de entretimento, mas no Brasil, pela falta de visão de negócio, ainda temos campeonatos sem nenhuma atratividade, excesso de jogos, baixa qualidade dos jogos, clima hostil, violência, falta de serviços de qualidade, horários sem atratividade. Esses fatores somados acabam afastando o torcedor do estádio, além de consumir menos produtos do que poderiam.

Até quando esperar pelas mudanças estruturais que tanto são debatidas mas pouco implementadas?

Os cães continuam latindo, impedindo a evolução do futebol brasileiro. A caravana da evolução, do profissionalismo, da transparência vai conseguir passar?
























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