Público e Renda: Campeonato Brasileiro 2017 R37



Chegamos à penúltima rodada do Brasileirão 2017 e também estamos chegando ao final desta longa série de posts sobre o comportamento do torcedor em cada rodada, bem como algumas reflexões e sugestões que poderiam ser implementadas visando melhorar o atual cenário.

Ontem assisti à palestra  "LFP - Liga de Futebol Profissional", conhecida como La Liga. A palestra foi ministrada pelo  delegado da La Liga Global, Albert Castelló. Em linhas gerais a palestra teve como enfoque todo o trabalho que a LFP está desenvolvendo para ser uma das principais ligas esportivas do mundo. 

Dentre os temas apresentados, os mais relevantes foram: 

- preocupação com a competitividade do campeonato com uma divisão de cotas mais equilibradas;
- redução da pirataria nas transmissões, 
- ter vários escritórios ao redor do mundo visando parcerias comerciais;
- preocupação com as finanças dos clubes;
-  preocupação com a qualidade e as cores do gramado, além de uma  iluminação perfeita visando passar a imagem de um produto padronizado e de qualidade.

Isso demonstra quanto estão focados em fazer do seu produto um dos melhores do mundo e mais uma vez fica claro a diferença da forma como eles tratam o campeonato como um grande negócio e como os clubes brasileiros não cuidam da mesma forma. Enquanto a CBF for a responsável pela organização dos campeonatos, mas priorizar a seleção brasileira como seu principal produto, teremos esse cenário inalterado. 

Essa pequena introdução serve para iniciarmos a análise da penúltima rodada do Brasileirão e mais uma vez constatar com dados o porquê é urgente mudarmos a atual forma que o Campeonato Brasileiro de todas as séries são geridos.

A R37 foi a quarta rodada com público pagante acima de 20 mil torcedores/jogo, sendo a terceira melhor média de público do campeonato com 20.675/jogo, sendo que, em duas das quatro rodadas de maior público pagante tivemos 9 jogos, pois o Vasco jogou com portões fechados. Além desses bons números, a rodada 37 foi a maior taxa de ocupação do campeonato (57%). O que para o Brasileirão é motivo de comemoração, se fosse gerido de forma profissional, seria motivo de críticas.

A festa corintiana na Arena Itaquera foi o grande destaque da rodada e, pela segunda vez na história, a arena superou os 46 mil pagantes. Desde 2009 um time campeão não atingia média de 40 mil pagantes/jogo.

Um dos destaques da rodada foi o Bahia, que teve o seu maior público do campeonato, com 35.437 pagantes, se consolidando como a quarta melhor média de público do campeonato. Importante ressaltar que, além do maior público pagante, o Bahia conseguiu esse público sem reduzir os preços dos ingressos. O ticket médio de R$ 30,37 foi o terceiro maior. Provavelmente, além de ser o último jogo do Bahia como mandante, a luta por um possível G7 ou G9 deve ter impactado na presença do torcedor baiano.

Outro time que obteve seu maior público no campeonato foi o Coritiba.Os 32.739 pagantes compareceram em massa para empurrar seu time de vez para fora da zona de rebaixamento. Além do belíssimo público, também foi a maior taxa de ocupação (81%) e a segunda melhor renda bruta (R$ 788.580).

O Avaí levou um grande número de torcedores, sendo o jogo contra o Atlético Paranaense o segundo melhor público do campeonato (12.367) e também a segunda melhor taxa de ocupação (69%).

A torcida da Ponte Preta também compareceu em bom número, o terceiro melhor público do campeonato (12.862). Infelizmente a pressão da torcida passou do ponto, gerando uma situação inaceitável para o sexto campeonato mais valioso do mundo. Invasões de campo, tentativas de agressão, reação desproporcional da polícia. Um cenário que não cabe mais num futebol profissional.

O comparecimento de público nos jogos do Bahia, Coritiba, Avaí e Ponte Preta demonstram mais uma vez que, quando o torcedor percebe valor no jogo, ele comparece. a As disputas de um campeonato de pontos corridos: classificar para a Libertadores, fugir do rebaixamento ou lutar pelo título são os diferente campeonatos dentro do campeonato, mas por ser um campeonato com 38 rodadas, a mobilização para 19 jogos como mandante não pode ser dependente apenas desta percepção de valor. Obviamente que quando há esse fator motivacional é mais provável que haja maior presença de público, mas não pode se limitar a apenas um ou dois jogos.

Um exemplo de uma possível mobilização, mas que não foi aproveitada como deveria, foi a despedida do Zé Roberto como jogador profissional no jogo Palmeiras e Botafogo. Mesmo sem um jogo de grande apelo, pois ser vice campeão é algo mais simbólico do que uma conquista, a diretoria do Palmeiras deveria se planejar melhor com uma série de ações para mobilizar sua torcida para esse belo evento. Tanto não foi bem feito que os pouco mais de 23 pagantes foi o quinto pior público do Palmeiras no campeonato.

Pela primeira vez tivemos em uma rodada 4 jogos com públicos acima de 20 mil, além de bons públicos nos jogos do Avaí e Ponte Preta, isto fez com que tivéssemos a terceira melhor média de público pagante e a maior taxa de ocupação do campeonato.


Espero que seja possível que em algum dia tenhamos uma gestão profissional de uma Liga Brasileira de Futebol como vimos na apresentação da Liga Espanhola. Com uma gestão profissional e visão mercadológica poderemos ter todo o potencial reprimido explorado, baseado nas preferências e no comportamento do torcedor de cada time, otimizando todos os recursos disponíveis para gerar muito mais receita e, principalmente, um produto de muito melhor nível de qualidade e atratividade para todos os envolvidos. 






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