Precisamos falar de identidade
A demissão de Eduardo Batista e a volta de Cuca para o cargo
de treinador do Palmeiras foi um dos temas mais discutidos nos últimos dias.
Nas mídias sociais notamos as reações entusiasmadas da grande maioria dos
torcedores palmeirenses, celebrando a volta do treinador que comandou o
Palmeiras na conquista do título brasileiro de 2016. Por outro lado, vimos
muitas críticas de analistas sobre a demissão de Eduardo Batista.
Comentei via twitter sobre a necessidade das organizações
esportivas trabalharem sua identidade e, consequentemente, a identificação do
torcedor com seu time. Por não trabalharem corretamente essa identidade, acabam
contratando jogadores e treinadores que não são identificados com os atributos
dos times e, como consequência, o imediatismo pelos resultados acaba queimando
qualquer tipo de trabalho, pois o foco fica apenas em ganhar, não importando a
forma, sem que tenha uma relação cognitiva, afetiva do torcedor pelo treinador,
jogadores e estilo de jogo.
Todos os times possuem uma identidade e, devido a ela, um
grupo de pessoas se identificam com esse time baseado nas influências dos familiares,
da região/cidade, jogadores, treinadores, presidentes, feitos históricos,
número de conquistas, o estádio onde jogam, as causas que a organização
esportiva defende entre outros.
Esses fatores geram uma série de atributos que criam uma
identidade única de cada organização esportivo. Caso os gestores consigam
definir claramente esses atributos, toda a comunicação do time será baseada
nesses atributos, por exemplo: cores, design do uniforme, modelo de jogo, além
de buscar parceiros comerciais com congruência de atributos que possam se
apropriar mutuamente.
O Barcelona possui no seu estatuto a obrigação de sempre
jogar de forma técnica, artística. Dessa forma jogadores e treinadores que não
possuem esses atributos dificilmente jogarão no time catalão. Os catalães
valorizam e se identificam com esses atributos, e o Barcelona entende muito bem
isso.
O Atlético de Bilbao não aceita atletas não nascidos, não
desenvolvidos ou não descendentes no País Basco. O time basco é uma bandeira
para a região e jogar com atletas bascos é a sua identidade. Torcedores de
muitos times europeus enchem seus estádios, consomem produtos e serviços devido
a essa identidade bem trabalhada pelas organizações esportivas.
Nos times do futebol brasileiro esses atributos podem ser
percebidos. Prestigiar jogadores da base é aceito pela torcida do Santos.
Flamengo e Corinthians, devido grande parte da sua torcida vir de classes
sociais mais baixas, possuem como identidade as vitórias na superação, na
garra, pois grande parte da sua torcida se identifica com esses atributos. Torcedores
dos times do Grêmio e Internacional valorizam treinadores e jogadores de força.
Os torcedores do Palmeiras valorizam times mais técnicos.
O torcedor sempre gostou que a seleção brasileira levasse a
campo os atributos que nos identificamos como o drible, o improviso, jogadores
e jogadas plásticas, ganhando e convencendo. Uma forma de mostrar no futebol
que o Brasil é superior aos demais países. Não é à toa que reverenciamos até
hoje a seleção de 1982 quase no mesmo nível da seleção de 1970, pois foram
times que mais próximos ficaram desses atributos que nos identificam com escola
futebolística.
Como os times não trabalham claramente seus atributos e
também devido a muitos times necessitarem de conquistas, treinadores e
jogadores são contratados e demitidos no mesmo ritmo devido à busca incessante
por resultados, não importando a forma. Para mim esse é um dos grandes motivos
para as reações da semana com a pressão para a demissão de Eduardo Batista e
pela festa dos palmeirenses devido a volta de Cuca, que criou uma grande
identificação com a torcida e vice-versa.
Entender quais são os atributos, validar esses atributos com
a base de torcedores, criar uma comunicação clara baseado nessa identidade
única e nos seus atributos é uma das funções do departamento de marketing de
qualquer organização esportiva visando criar sua proposta única de valor para
os torcedores, patrocinadores, mídia e os demais envolvidos. Caso contrário,
veremos situações como a demissão de Eduardo Batista se repetir seguidamente.
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