Os fatores que impactam na percepção de valor dos torcedores



Após uma semana repleta de fatos esportivos marcantes como o histórico Super Bowl 51 e a corrida maluca do Atlético Tucumán para conseguir chegar ao estádio em Quito, podemos perceber os contrastes de um evento de altíssimo nível em todos os sentidos como o Super Bowl e, por outro lado, a várzea que ainda impera na Libertadores da América, mesmo com a tentativa de mudança da imagem por parte da Conmebol.

Ao avaliáramos as diferenças entre os eventos esportivos acima citados e também incluindo na comparação a forma como os campeonatos são tratados pelos organizadores e participantes dos torneios no Brasil, proponho uma reflexão do leitor sobre quais os fatores que impactam na baixa percepção de valor dos torcedores em relação aos campeonatos regionais, nacionais e continentais.

Como mencionado na minha coluna da última semana, um dos grandes sucessos do Super Bowl foi transformar um evento esportivo em um grande espetáculo de entretenimento para quem assiste pela TV, para quem assiste ao vivo e para os patrocinadores, entre outros stakeholders.

Um dos principais fatores para mudar a percepção de valor dos consumidores é focar nos interesses, desejos e atrativos que façam com que os torcedores aumentem o interesse em consumir os campeonatos. Em pesquisas acadêmicas podemos encontrar autores que mencionam que um evento esportivo deve atrair os torcedores de alto, médio e baixo envolvimento para um evento esportivo. Costumo comentar com vários amigos que não se enche estádio apenas com os torcedores de alto envolvimento, os fanáticos.

Com a reflexão acima citada, surge um segundo fator que impacta na percepção de valor dos potenciais consumidores. Até o atual momento, como o foco dos organizadores dos eventos esportivos é o jogo, se o consumidor não for altamente envolvido, o que os organizadores deveriam fazer para atrair os torcedores de médio e baixo envolvimento?

Muito pouco ou quase nada está sendo feito no Brasil nem na América do Sul para atrair esse novo público. As novas arenas seriam um potencial de mudança, mas ainda são muito incipientes para provocar mudanças drásticas no atual cenário. Sou frequentador assíduo de uma das melhores arenas do Brasil, e a percepção geral é que o serviço oferecido não é atrativo para os torcedores que não são fanáticos.

A parte externa continua a mesma, com flanelinhas, vendedores ambulantes, filas enormes para entrar, entre outros. Não há restaurantes decentes, quase nada de produtos do time à venda. Os banheiros são melhores e os acessos aos locais também melhoraram, mas em linhas gerais o melhor das novas arenas é a visibilidade do jogo, a proximidade do campo, portanto, foco mais no jogo do que no torcedor.

Um exemplo de como são organizados os eventos esportivos no Brasil foi o relato de um torcedor que foi ao Engenhão no jogo entre Brasil e Colômbia no dia 25 de janeiro:


Os ingressos foram comprados na sede do Flu, em Laranjeiras. O site da CBF informava que crianças menores de 12 anos não pagariam ingresso. Mas ao pedir três entradas para o setor leste inferior fui informado no guichê: as gratuidades permitidas apenas para o setor sul, atrás de um dos gols, e mais barato do que o outro. Aceitei”.

“Na quarta de manhã, no Twitter, li sobre a preliminar, com craques do passado e artistas. Uma boa para chegar mais cedo, pensei. Mas em nenhum lugar do site oficial a CBF informava o início do evento. Às 19h, em casa, vejo pela TV informações sobre os portões ainda fechados. A entidade decidiu, segundo o Esporte Interativo, atrasar a entrada de quem já estava no entorno do Engenhão”.

“Não havia ingresso com local marcado. Era sentar em qualquer cadeira do setor sul. Ali, a primeira pergunta do meu filho, 8 anos, durante a preliminar: "Pai, vou ter de olhar para trás toda vez que quiser ver o telão". Isso mesmo. Apenas um dos telões do estádio estava em funcionamento. E ele fica às costas de quem está no setor sul”

“O primeiro tempo termina. Hora de procurar algo para as crianças comerem. Mas apenas cinco pontos de venda estavam disponíveis no setor sul, mas as filas rapidamente eram enormes. Quem desistia encontrava muita gente esperando até para usar o bebedouro de água. "Vamos desistir, pai. Eu aguento esperar até a gente voltar para casa", diz meu filho. Demorou, mas chegou nossa vez. O jogo estava para recomeçar. Peço cinco pastéis. Mas só haviam sobrado dois. Ficamos com eles, por total falta de opção”

“Fim do jogo. Os bares já não tinham mais produtos à venda ou já fechado. Não diria ter ficado surpreso. Mas estava decepcionado. A experiência poderia ter sido inesquecível, principalmente para meus filhos, futuros consumidores”

  
Como atrair novos torcedores, principalmente os menos envolvidos, se eles não estão percebendo valor para que decidam assistir um jogo em uma das novas arenas?

O que fariam com que eles sejam atraídos?

Melhores serviços (estacionamento, alimentação, compras), entretenimento, conteúdos exclusivos para os smartphones via wi-fi, restaurantes, reduzir a percepção de violência, enfim, transformar a arena em um shopping center onde não há cinema, mas sim um evento esportivo. Tenho certeza que com esse tipo de serviço um outro tipo de público poderia ser atraído para as novas arenas. Isso é suficiente? Provavelmente não.

Outros fatores também impactam para mudar ao atual cenário e que pretendo abordar nos próximos posts.

E para você caro leitor, quais fatores vocês consideram como fator de impacto para melhorar a percepção de valor dos atuais campeonatos disputados no Brasil?

Aguardo o comentário e sugestões de vocês.

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