Os clubes brasileiros continuam vendendo seus Mickey Mouses





Durante as duas últimas semanas foram divulgados os balanços dos 20 principais clubes brasileiros em 2015. Várias análises foram efetuadas e alguns números precisam ser analisados com uma visão mais ampla para tentar enxergar alguns dados por trás dos números.

Os números consolidados demonstram que as cotas de TV permanecem como a maior fonte de receita dos clubes, por outro lado a venda de jogadores são a segunda maior fonte de receita. Esse fenômeno pode estar afetando as demais fontes de receita. Os números consolidados são os seguintes:

Direitos de TV - 38%
Venda de Atletas - 17%
Patrocínios - 14%
Sócio Torcedor - 14%
Bilheteria - 10%
Outros - 7%

Quando se compara com a porcentagem de faturamento dos 20 principais clubes europeus na temporada 204/2015 os números com patrocínio e bilheteria possuem um impacto mais significativo do que nos clubes brasileiros:

Direitos de TV - 44%
Patrocínios / Comercial - 36%
Bilheteria - 20%

Os números acima demonstram que a venda de atletas não aparecem como receitas dos clubes, nem os sócios torcedores. Caso formos classificar a receita com sócios torcedores como comercial , os 20 principais clubes brasileiros teriam 28% da sua receita entre patrocínio e comercial, ainda bem abaixo do que os clubes europeus faturam com essa fonte de receita.

O campeonato brasileiro da Série A se iniciará no próximo final de semana com o seguinte cenário:

- Atlético Mineiro e São Paulo poupando jogadores para as quartas de final da Copa Libertadores;

- Durante nove rodadas vários clubes brasileiros vão ficar sem seus principais jogadores devido a disputa da Copa América Centenário;

- Após a Copa América Centenário, Atlético Mineiro ou São Paulo vão estar na semi final da Copa Libertadores e deverão poupar jogadores por no mínimo mais duas rodadas, caso forem para a final, serão mais 2 rodadas;

- Em julho e agosto abrirá a janela de transferências do mercado internacional, o que provavelmente causará saída de mais jogadores;

- Em agosto serão disputados os Jogos Olímpicos e vários clubes ficarão sem suas jovens promessas por mais nove rodadas;

- Os 3 clubes do Rio de Janeiro que disputarão a Série A não terão estádios disponíveis na sua cidade até novembro, sendo obrigados a jogar fora da cidade ou em outros estádios.

Com esse cenários, qual a probabilidade de uma empresa utilizar algum clube, estádio ou o próprio campeonato como plataforma de relacionamento e  valorização da sua marca?

O que esperar da qualidade dos jogos com a certeza que os times que entrarão em campo no próximo domingo não serão os mesmos após os Jogos Olímpicos?

Como exigir qualidade no trabalho dos treinadores com a necessidade de remontar os seus respectivos times durante o campeonato?

Como atrair os torcedores menos envolvidos/identificados em consumir os produtos comercializados no campeonato ( ex: pay per view, ingressos, TV aberta, produtos e serviços nos estádios, programa de sócio torcedor)?

Essas perguntas precisam ser respondidas com uma série de medidas a serem implementadas para que a participação das fontes de receita dos 20 principais clubes brasileiros se aproxime, em termos proporcionais, a receita dos europeus, aumentando a participação das receitas com patrocínio e bilheteria, reduzindo a dependência das receitas com venda de jogadores.

A mudança do calendário é peça fundamental, bem como o consenso geral que todos os envolvidos precisam entender que o produto ofertado atualmente está desvalorizado, mas possui um enorme potencial de valorização. Um fator impeditivo é a política que impera na relação CBF e Federações, que precisam ser drasticamente alterada.Com um melhor produto, todos os envolvidos colherão os frutos positivos, alterando o cenário atual.

Quando se vai à Disneylândia, tanto adultos como as crianças que entram no Parque Magic Kingdon buscam ter contato com Mickey Mouse e todas as célebres personagens que habitam as memórias afetivas de várias gerações, além de terem certeza de que todos os produtos e serviços ofertados nos parques da Disney são de alto nível de excelência.

Quando se vai assistir a um jogo de futebol, tanto os adultos quanto as crianças buscam ver ídolos e grandes jogadores que habitam a memória afetiva dos torcedores. Quando se vai ao estádio no Brasil os torcedores, com raras exceções, não se identificam com nenhum jogador, pois acabaram de ser vendidos para clubes do exterior. 

Dessa forma, não se consegue gerar ligação afetiva/ identificação, não se desperta o interesse das novas gerações, a qualidade dos jogos fica baixa, não se atrai mais público nem patrocinadores para os clubes, fazendo com que mais da metade das receitas fiquem dependentes das cotas de TV e da venda de jogadores, sem se preocupar com um alto nível de excelência nos produtos e serviços ofertados nos estádios e na TV.

A sensação geral é como ir a Disneylândia e perceber que Mickey Mouse e sua turma foram todos vendidos para fazer caixa visando fechar as contas do ano, e os torcedores sentindo-se tratados como um bando de Patetas.









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