Vai rolar a Festa?



Passaram-se 55 dias desde a última rodada do Campeonato Brasileiro 2015. Como não havia times brasileiros disputando as finais da Copa Sulamericana nem o Mundial da FIFA, dia 06/12/2015 foi o último dia do calendário do futebol brasileiro em 2015.

Durante esse período de férias e pré temporada, com a falta de grandes investimentos, não houve grandes contratações por parte dos grandes times e os principais fatos desse período ficaram centralizados no desmanche do Corinthians por parte dos clubes chineses, a saída de Pato além da contratação de Muricy pelo Flamengo e Bausa pelo São Paulo.

Pela primeira vez, com exceção do Corinthians, os principais times do país mantiveram a base e os treinadores de 2015, o que em tese promete um melhor nível de performance dos times, já que o time titular da grande maioria será praticamente o mesmo do ano passado.

Avaliando os comentários nas redes sociais, os torcedores já estão ficando fissurados para ver seus times jogarem oficialmente, voltar a frequentar os estádios, sentir a atmosfera mágica de um jogo de futebol. Um sentimento similar de quem está se preparando para ir para uma grande festa.

Aí chegamos ao ponto X da questão:

Vai rolar a festa?

Mais uma vez é perceptível nas redes sociais que, acompanhar os estaduais  não é a festa que os torcedores esperavam participar. Durante esses 3 meses grande parte da magia que faz parte desse momento do ano começa a se esvair com o passar dos jogos. 

O torcedor pode até se animar com os clássicos, levar seus filhos pela primeira vez em jogos semi-amistosos, mas o torcedor mais envolvido vai ao estádio ver os jogos dos estaduais como um zumbi, muitos dos sócios torcedores irão com o objetivo de  manter o rating de frequência em alta visando a prioridade de compra de ingressos em campeonatos que realmente valem. 

Esse fato foi comprovado em minha pesquisa de mestrado "O comportamento do consumidor esportivo: um estudo sobre os fatores que influenciam o comparecimento do público no estádios e arenas no Brasil". Nesse estudo os estaduais ficaram na última posição em termos da intenção de comprar ingressos para ir aos jogos, perdendo para Copa Libertadores, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Sulamericana.

Segundo Tim Vickery, correspondente da BBC no Brasil, essa magia e a fissura por um jogo de futebol  no início da temporada é que faz o torcedor inglês comprar / renovar os carnês da temporada, acreditar que com as contratações seu time do coração pode ser campeão da Liga, da Copa, ir para a Champions League ou Europa League.

Enquanto Atlético MG e Flamengo levaram 30 mil pagantes ao Mineirão na primeira rodada da Primeira Liga, qual será o público pagante na próxima quarta feira dia 3/2 para ver o jogo contra a Caldense as 21:45h?

Já passou da hora de repensar os estaduais, não necessariamente acabar, mas sim reduzi-los no máximo para 6 datas, para que na primeira semana de março se incie a grande festa, que é o Campeonato Brasileiro em todas as séries.

Os estaduais em tiro curto serviriam para os times se entrosarem, aquecerem os motores para a temporada. Para os times do interior seria um grande evento, mas também serviria para os ajustes para os estaduais (série C e D regional) que iniciariam em março, indo até o final da temporada. Desta forma se encerrariam os problemas de clubes e milhares de jogadores que trabalham apenas 3 meses da temporada. Para os times grandes reduziria enormemente o excesso de jogos que atrapalham a qualidade do espetáculo, principalmente no final da temporada.

Como os Rolling Stones não tocam mais em clubes do subúrbio londrino, apenas em grandes estádios pelo mundo afora,  os times grandes não podem mais se submeter a 7 ou 8  jogos desnecessários pelo interior apenas para satisfazer egos e interesses de quem não está interessado na qualidade do espetáculo nem no desenvolvimento do esporte.

Não há dinheiro que pague pelo desgaste de jogos sem atratividade nesses próximos 3 meses, nem os R$ 17 milhões pagos a cada um dos 4 times grandes de São Paulo. Como mencionado no post da semana passada, podemos sim fazer torneios atrativos, competitivos e com qualidade para todos os públicos do Brasil usando a criatividade que faz parte do DNA do brasileiro.

Temos o Rock in Rio e o Carnaval como produtos de exportação e que atraem músicos e espectadores para o Brasil e que todo mundo quer ver. É possível pegar esses modelos e adaptar ao campeonato brasileiro da série A, transformando-o em um grande produto de consumo para todos os stakeholders.

Da mesma forma que temos o Rock in Rio e o desfile das Escolas de Samba, as Micaretas e Rodeios espalhados pelo Brasil também são um sucesso. Também é possível fazer benchmarking com esses eventos visando a organização das Série B, C e D.

O que falta para isso acontecer é ter uma visão de negócio para o produto futebol, com foco no torcedor, e não apenas foco no jogo em que os "dirigentes" apenas usufruem das benesses do poder sem visar melhorias para o esporte. Um grande exemplo é o atual presidente da CBF em exercício, o que ele fez pelo desenvolvimento dos times do estado do Pará?

Alguns blogueiros do ESPN FC já estão começando a repercutir essa transformação, deixando o clubismo de lado, pois o torcedor já percebeu que um espetáculo de qualidade é muito melhor do que apenas 1 ou 2 times se beneficiarem enquanto os demais aos poucos vão ficando apenas com sua história para contar.

Eu já participei de um Seminiário sobre o tema Calendário apresentando minhas propostas. Temos vários especialistas na matéria, como o Luis Felipe Chateaubriand, que já publicou livros sobre o tema e faz parte do Bom Senso FC. Está na hora de se iniciar um debate sobre qual seriam as melhores sugestões para o tema. 

Já passou da hora de tirar a interrogação da frase título desse post e trocar por vários pontos de exclamação, para que, ao chegar na última semana de janeiro o torcedor tenha convicção de afirmar com em letra maiúscula:

VAI ROLAR A FESTA!!!!!!

Esperançoso em ver essa mudança, a letra da música "Festa" da Ivete Sangalo pode servir de exemplo do sentimento do torcedor em 30/01 de um futuro próximo. 

"A Mãe Futebol Brasileiro mandou avisar que o povo do gueto vai fazer a grande festa do futebol mundial!."





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