Que futebol queremos: como um negócio ou apenas como um jogo?




A cada dia em que a música tema da Champions League precede a abertura de mais uma transmissão do melhor campeonato de futebol do mundo, ao mesmo tempo que sabemos que vem um jogo de qualidade pela frente, me vem uma melancolia sobre o que o futebol brasileiro e sul-americano continua desperdiçando de oportunidade.

Ao assistir Manchester City x Barcelona, Arsenal x Bayern Munich, Bayer Leverkusen x PSG, Milan x Atlético de Madrid e a noite assistirmos Nacional PAR x Zamora, Flamengo x Madureira, Palmeiras x Ituano chego a conclusão que são dois negócios distintos.

Não se pode dizer que os torneios disputados na Europa e na América do Sul fazem parte do mesmo negócio.

O que pretendo debater neste espaço é que sejam colocadas as cartas na mesa e se responda a seguinte pergunta:

Queremos tratar o futebol no Brasil e na América do Sul como um negócio ou apenas como um jogo?

Infelizmente a primeira impressão que me vem à mente ao fazer este questionamento é imaginar quem no futebol sul-americano teria condições e interesse em fazer esta pergunta. 

Se dentre os principais clubes do continente um número de dirigentes, por menor que seja, estiver com essas indagações em mente já será um pequeno alento para que as coisas mudem na linha abaixo do Equador.

Como ainda não tenho como influenciar diretamente, mas pretendo fazer parte do processo de mudança de mentalidade no ambiente futebolistico, vou procurar colocar minhas modestas opiniões a respeito da pergunta título deste post.

Se a resposta for SIM, não precisamos inventar a roda, mas sim fazer um benchmarking com as melhores práticas dos países europeus e com pitadas da cultura americana de fazer esporte.

Deste benchmarking eu sugiro as seguintes diretrizes para as mudanças:

- transformar o jogo/campeonato em uma indústria do futebol 
- avaliar o quanto é possível de se gerar de empregos e oportunidades para todos os envolvidos no segmento
- criar regras claras e objetivas de governança para os times de futebol
- criar ligas independentes das federações para tratar de todos os interesses dos times
- separar claramente os interesses dos clubes sociais do negócio futebol dentro dos mesmos
- focar o negócio futebol no torcedor / consumidor
- profissionalizar todos os departamentos dos clubes 
- presidentes dos clubes devem responder civilmente por seus atos ao lesarem os clubes
- quem deve conduzir e executar o negócio futebol nos clubes são os executivos e profissionais
- o presidente e os demais órgãos consultivos devem se preocupar com os rumos e as metas de médio e longo prazo e acompanhar as implementações pelo corpo executivo
- a TV deve ser um parceiro e não quem decide tabelas, transmissões, divisão de direitos
- punição severa para baderneiros e arruaceiros, afastando-os dos estádios

Acredito que se todas as diretrizes acima forem implementadas, como foram na Europa e nos Estados Unidos, teremos o que tanto esperamos:

- clubes com marcas fortes e com poder de competir dentro e fora do campo com as marcas europeias e americanas
- torneios valorizados e com apelo para serem comercializados para outros continentes
- clubes com caixa equilibrado para atrair talentos dentro e fora do campo
- estádios cheios em todos os jogos
- final da presença de aventureiros e despreparados nos comandos dos clubes
- aumento da geração de emprego em vários segmento 
- aumento da arrecadação dos clubes
- melhor qualidade dos torneios e das partidas
- aumento da presença das classes A e B e suas famílias nos estádios
- transformar o evento esportivo nos estádios em uma grande e feliz experiência

Agora, se os que estão no comando das confederações e clubes no Brasil e América do Sul não estiverem pensando na pergunta tema deste post, o que iremos continuar a ver em termos de futebol no continente é o que estamos presenciando ano a ano, de forma cada vez mais decadente:

- foco no jogo de futebol 
- falta de transparência na gestão
- clubes fracos em termos de representatividade e reféns da TV, federações e confederações 
- amadorismo e falta de pessoas capacitadas e competentes na gestão
- tratar o torcedor como massa de manobra 
- presidentes personalistas e egocêntricos, preocupados muito mais com seu mandato e seu poder do que com o legado e com o médio e longo prazo
- a política fazendo parte das decisões ao invés da gestão 
- a TV tratando os clubes e federações como grade de programação a ser preenchida em horários inadequados
- violência e baderna
- afastamento das famílias e das classes A e B dos estádios

As consequências serão as futuras gerações grudadas nas TVs nas terças e quartas  à tarde esperando o tema da Champions League para verem o jogo do time de seus corações, que ficam a mais de 10 mil km de distância.

Estão colocando um oceano de distância entre o verdadeiro futebol  e o torcedor sul-americano. Há 30 anos este mesmo futebol estava presente a poucos quilômetros de distância, no Morumbi, Pacaembu, Maracanã e Mineirão.  Mesmo sem TV aberta nem pay per view, só de ouvir os músicas que abriam as transmissões das rádios, já era garantia de emoções e qualidade do espetáculo.

Estão esperando o quê para acordarem?

Uma bolada na cara como a eliminação do Brasil na Copa?

Somos apaixonados por futebol, temos os jogadores e agora teremos estádios de alto nível, falta transformar tudo isso num grande espetáculo novamente mas com visão de negócio, como o grande Fiori Giglioti abria suas transmissões:

- Apita o árbitro, abrem-se as cortinas e começa o grande jogo, torcida brasileira!!

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