Europa 8 x 0 Futebol Brasileiro
Depois da humilhação que o Santos passou ontem no Camp Nou,
muitas piadas surgiram por parte dos rivais santistas, zombando-os pelo vexame
frente ao Barcelona.
Sabemos que a rivalidade é um grande combustível para manter
a chama da paixão pelo futebol viva no Brasil e no mundo e é muito importante
mantê-la por vários fatores. Tirando a rivalidade e um certo sadismo dos demais
torcedores de lado, mais uma vez o resultado da partida de ontem demonstra
claramente a enorme distância do produto Futebol comercializado e produzido no
Brasil e na Europa.
Antes de iniciar meu raciocínio, gostaria de deixar claro
que os acachapantes 3 a 0 que a Seleção Brasileira aplicou na Espanha na final
da Copa das Confederações não tem nada a ver com o que eu entendo como produto
Futebol. Um jogo de futebol como aquela mágica final não serve para mensurar o que
pretendo explanar a seguir e que por décadas pode ser o grande fator que induz ao
falso pensamento que o Brasil é o país do Futebol.
Para deixar mais claro meu raciocínio vamos aos oito pontos
extraídos de duas pesquisas da Pluri Consultoria e que demonstram a enorme
distância entre Brasil e Europa:
1)
Entre as 100 maiores médias de público do
planeta 77 são de clubes europeus *
2)
Os 24 primeiros do ranking são europeus*
3)
O Corinthians, primeiro brasileiro do ranking,
time com cerca de 30 milhões de torcedores, está entre os 10 últimos e é o
quarto em média de pública da América do Sul*
4)
Apenas 03 times do Brasil, sendo a segunda
melhor média o Santa Cruz, clube da terceira divisão do campeonato Brasileiro,
aparecem entre os 100 primeiros. O terceiro clube é o São Paulo*
5)
O primeiro clube não europeu é o americano Seattle
Sounders, da liga Major League Soccer, que aparece na vigésima quinta posição*
6)
17 das 20 maiores taxas de ocupação dos estádios
são de ligas europeias**
7)
O Campeonato Brasileiro é apenas o trigésimo primeiro
em ocupação do estádio com 38.4% de ocupação em 2012 e os Americanos são o
terceiro do mundo com 91% de ocupação**
8)
A segunda divisão da Alemanha e a segunda e
terceira divisão da Inglaterra estão entre as 20 maiores taxas de ocupação do
mundo**
* Fonte Pluri – 100 clubes com a maior média de público do
Mundo
** Fonte Pluri – Ranking Mundial de Ocupação do Estádios
Ainda
bem que o juiz apitou o final da partida, pois a goleada poderia ser ainda
maior.
Enquanto
os clubes europeus estão expondo suas marcas e faturando com pré-temporadas e
torneios preparatórios na Ásia, Oriente Médio e Estados Unidos, os clubes
brasileiros desvalorizam seu produto ao não aproveitar este momento para fazer
parte desta grande vitrine devido ao Calendário Brasileiro não se adequar ao
Calendário Europeu.
Muitos
dizem que esta é uma questão muito polêmica e de difícil solução, então porque
não parar o torneio durante 15 dias, justamente neste período do ano para
aproveitar a oportunidade e valorizar as marcas?
Enquanto
o campeão da Champions League, após vencer o principal e mais rico torneio de
clubes do mundo comemorou o título em grandes festas na cidade e logo em
seguida saíram de férias, o Atlético Mineiro tem que manter um alto nível de
competição para evitar ficar na zona de rebaixamento e passar por uma humilhante
goleada perante seu maior rival 4 dias após conquistar o maior título da sua
história.
Os
jogadores são seres humanos que mereceriam desfrutar intensamente deste momento
ímpar, mas ficam na encruzilhada entre relaxar, comemorar e ter que disputar
partidas complicadas logo em seguida.
Seguindo o Calendário Europeu sairiam de férias após o título e teriam
40 dias de festas para torcedores e jogadores e não precisariam lidar com este
conflito que passa em todo elenco e comissão técnica do Atlético.
Enquanto
Borussia Dortumund e Bayern de Munich fizeram um jogaço na disputa da Supercopa
da Alemanha, num empolgante 4 a 2 que serviu como aperitivo do que a Bundesliga
promete nesta temporada, Corinthians e São Paulo decidiram a Supercopa da
América do Sul na mesma data da final da Taça Libertadores, jogo este que
deveria ser na abertura da temporada.
Ao
invés de se abrir a temporada brasileira com uma Supercopa do Brasil em jogo
único, somos obrigados a assistir jogadores em fase de pré-temporada se
arrastando e se derretendo nos gramados durante o alto verão nos moribundos
campeonatos estaduais. Imaginem Fluminense e Palmeiras abrindo a temporada de
2013 em um jogo único na segunda semana de Fevereiro com transmissão para todo
o Brasil disputando uma taça logo na abertura da temporada?
Porque
o Ibope das transmissões de TV dos jogos do Campeonato Brasileiro estão tão
baixas justamente quando se pagaram as maiores cotas de TV da história?
Não
adianta nada definir que temos um campeonato de turno e returno sem trabalhar
bem o espetáculo com jogadores de qualidade que elevam o nível das partidas,
mas que se motivam mais quando os estádios estão cheios e se os torneios tem
enorme competitividade e disputa. Além disso, porque 80% dos jogos transmitidos
são de Flamengo e Corinthians?
Algo
precisa ser mudado, pois apenas pagar caro e entregar um produto que não é
percebido como de primeira pelo torcedor vai acabar custando caro para todos os
envolvidos e as renovações futuras podem não ser dentro dos mesmos valores
vigentes.
Twitado após o jogo Barcelona 8 x 0 Santos |
O
problema do futebol brasileiro é sistêmico e precisam de medidas drásticas em
várias frentes pois os 8 a 0 acima citados são fatos que deveriam alarmar os
dirigentes do futebol brasileiro, mas não parece que causou nenhum alarde nessa
gente.
Os
clubes brasileiros precisam entender que ganhar e perder deve ser apenas dentro
do campo e todos devem se unir em busca de melhores negócios para o produto
fora de campo, criando uma organização que cuide de todos os interesses
comerciais, valorizando o produto e aumentando a exposição em outros mercados.
Muitos dizem que uma Liga seria inviável neste momento, porque não criar um
Departamento de Clubes dentro da CBF visando estes interesses?
Sou
um grande defensor da criação da Liga de Futebol Brasileira para os clubes
definitivamente tomarem as rédeas dos seus interesses e não dependerem dos mais
de 40% das suas receitas provenientes de cotas de TV e depois reclamarem de
tabelas, horários de jogos, priorização de clubes com mais ibope em detrimento
de outros, etc.
Uma
liga forte pode cuidar de toda a estratégia mercadológica do Produto Campeonato
Brasileiro. Profissionais muito competentes para este trabalho não faltam, o
que falta é vontade política para quebrar este ciclo vicioso.
Para
poder virar os 8 a 0, seguem abaixo algumas medidas que eu e os demais colegas
que tivemos a honra de participar do Seminário : Calendário do Futebol Brasileiro preparamos:
1)
Adequação do Calendário Brasileiro ao Calendário
Mundial
2)
4 semanas de férias
3)
5 semanas para pré-temporadas (incluindo
excursões internacionais)
4)
4 semanas de parada dos campeonatos para Datas
FIFA
5)
Clubes pequenos com calendário mínimo de 9 meses
no ano
6)
Campeonato Brasileiro Séries A / B / C durante
todo o ano em 36 semanas
7)
Clubes que disputam Séries A / B /C do
Brasileiro não disputam Estaduais e Regionais
8)
Criação da Supercopa do Brasil para abrir a
temporada
9)
Final da Copa do Brasil em jogo único fechando a
temporada
10)
Criação dos regionais (Sul, Sudeste, Nordeste,
Centro Oeste / Norte) classificatória para a Série C do ano seguinte
Acredito
que com a criação de uma Liga que administre todos os interesses mercadológicos
do produto Campeonato Brasileiro em todas as suas divisões e sub divisões,
juntamente com as sugestões acima, o produto futebol no Brasil poderá atingir
um outro patamar e evitar vexames dentro e fora de campo como os do momento
atual.
Choque
de gestão em todos os segmentos que envolvem o futebol brasileiro já!
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