Palmeirense Como Ele É
Genaro era filho de
italianos, nasceu no Bixiga e desde os 10 anos começou a frequentar os jogos do
Palmeiras junto com seu pai Antonio.
A família de
Calabreses chegou ao Brasil logo após a Primeira Guerra Mundial. Antonio foi um
grande combatente e ganhou até uma medalha de Herói de Guerra do Governo
Italiano.
Palmeiras 8 a 0 |
A paixão de Antonio pelo
Palestra Itália foi definitivamente despertada depois daquela grande goleada
sobre os schifosi do Bom Retiro por 8 a 0 em 1933.
Depois daquele dia
Antonio e tutti amici do Bixiga não perdiam um jogo do Palestra no Parque Antártica.
Genaro, desde pequeno escutava
as histórias do seu pai com muita admiração. Com seu forte sotaque calabrês, Antonio
falava com nostalgia e orgulho:
Waldemar Fiúme |
- Bambino, o Palestra
na década de 30 ganhou 4 Paulistas. Romeu Pelliciari foi um dos grandes
artilheiros, Junqueira até estátua tem para aquele que foi um dos maiores
zagueiros que vestiu o manto sagrado. Nos anos 40, Waldemar Fiúme, que também
tem estátua no Palestra, e o grande Oberdan Catani nos deram mais 4 títulos.
Foram 9 títulos em 18 anos, capisce?
Genaro se encantava
com todos os recortes de jornais que o seu pai tinha guardado. Junto com sua farda
da Primeira Guerra Mundial, sua medalha de Herói de Guerra, os recortes de
jornais com todos os títulos até 1950 faziam parte do acervo pessoal do
Antonio, que para ganhar dinheiro no Brasil trabalhava carregando carne nas costas,
do Mercado Central até o Bixiga, para abastecer os açougues do bairro.
Arrancada Heróica 1942 |
- Bambino, em 1942 os
maledetos do Jardim Leonor, que quase faliram, e que o Palestra e os schifosi
do Bom Retiro ajudaram a levantar fundos no gioco da barrica para salvarem
quelli maledetos, quiseram invadir o Palestra Itália perché não tinham estádio
para jogar. O grande capitão Adalberto Neto foi em verdadeiro herói de guerra,
e junto com outros ilustres Palestrinos lutaram contra tudo e contra todos para
manter nostro Palestra vivo.
- Siamo Campione de
1942 – bradava Antonio. O Palestra Itália virou Palmeiras e os maledeto tomaram
uma surra de 3 a 1 e abandonaram o campo. Naquela dia morria mio amado Palestra
Itália e nascia Il Campione Palmeiras. Eu estava no Pacaembu e no final do jogo
gritava “ Pernacchia per tutti maledeti São Paulino”.
Palmeiras Campeão Mundial 1951 |
- Em 1951 siamo stati
il Primo Campione Del Mondo – continuava Antonio. Ganhamos da Vecchia Signora no
Maracanã. Resgatamos o orgulho brasileiro, fomos ovacionados em todo o Brasil
por aquela conquista. Rodrigues e Liminha encantaram os 100 mil tifosi que
foram àquele meraviglioso gioco. O Brasil virou uma gigante Trattoria Italiana
dopo aver finito Il gioco.
Genaro sentia seu
coração bater forte e intensamente a cada história apaixonadamente contada por
aquele calabrês, que quando falava do Palestra mudava totalmente seu comportamento.
Sentava na ponta da cadeira, tomava várias taças de vinho feito em casa e
falava com as mãos, como que estivesse regendo uma orquestra. Seus olhos
brilhavam, seu rosto ficava vermelho devido ao sangue verde e branco que corria
velozmente nas veias daquele velho guerreiro.
Durante aquelas
conversas que antecediam o sagrado almoço de domingo, Antonieta, mãe de Genaro,
trazia a sopressata que os parentes que vinham da Calábria traziam para Antonio
se deliciar juntamente com o pão italiano da Basilicata. Para completar, Il formagio
parmigiano e a maravilhosa sardella que Antonieta fazia. Todas as Concettas do
Bixiga morriam de inveja da sardella da Antonieta e sempre faziam comentários
invejosos sobre as habilidades culinárias daquela bela filha de italianos do
Brás.
Genaro foi ao seu
primeiro jogo justamente na final do Supercampeonato de 1959. Depois de dois empates
contra o Santos de Pelé, ele foi ao Pacaembu ver aquele que seria o primeiro
jogo de sua vida. Ao entrar no Paulo Machado de Carvalho pela primeira vez
Genaro ficou encantando com aquela vibração única e intensa que pulsava dentro
de si. A energia vinda das superlotadas
arquibancadas do estádio também fazia o coração verde e branco de Genaro bater
forte.
Palmeiras Supercampeão 1959 |
Antonio colocou Genaro
sobre seus ombros para o bambino ver seus ídolos em campo. Ele sabia a
escalação de cabeça, como todo Palmeirense:
Valdir de Moraes, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Gerlado Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho Botelho, Américo Murolo, Romeiro e Nardo.
O Santos abriu o placar com Pelé, mas no final
do primeiro tempo Julinho Botelho empatou a partida. Esse foi o primeiro gol de
Genaro no estádio. Nunca ele tinha sentido aquela emoção. Seu pai Antonio, como
bom italiano, pegou o garoto no colo e deu vários beijos no garoto, com que
fosse um batismo para aquele garoto de 10 anos.
Logo aos 3 minutos do segundo tempo
Romeiro bate uma falta com perfeição e faz 2 a1 para o Palmeiras. Delírio dos tifosi Parmeristas no estádio. O
Palmeiras se sagrou campeão e esse foi o primeiro jogo de Genaro no estádio.
Genaro não perdeu nenhum jogo depois
daquela tarde de domingo. Antonio passara o bastão para seu filho, sua missão
estava cumprida. Genaro já estava
eternamente batizado com o sangue verde e branco. Depois daquele jogo Antonio
nunca mais foi ao estádio, pois sua saúde já estava debilitada.
O Palmeiras da primeira academia deu
aula de futebol para todo o Brasil. Foi o único time que batia o Santos de
Pelé, sendo campeão de 1963 e 1966. Genaro dava aula de palestrinidade a todos
do bairro. Ele não perdia nenhum jogo do Palmeiras. Seu amor era imenso e
eterno por aquele time maravilhoso que encantava todo o Brasil, tendo a honra
de ser o único time da história do Brasil que jogou uma partida com a camisa da
seleção brasileira na inauguração do Mineirão em 1965. O Palmeiras, com a
camisa amarela do Brasil, mas com o sangue e a alma verde e branca, não
decepcionou os torcedores e ganhou de 3 a 0 da seleção do Uruguai.
Até os dias de hoje nunca houve outra
seleção que teve a honra de ter o Palmeiras representando seu País.
Em 1968 Genaro se casou com Agnes,
filha de italianos da Mooca e 1 ano depois nascia Marcelo, nome seu primeiro
filho. O nome foi em homenagem ao grande Mastroianni.
Genaro, seguindo a herança do
Antonio, queria que seu filho seguisse a nobre linhagem de Palmeirenses da
famiglia.
Em 1973 Antonio subitamente morreu em
uma bucólica tarde de sábado, depois de ir deitar após o almoço. Genaro sentiu
muito a morte do seu amado pai. Nunca houve uma dor tão profunda em seu peito,
mas Genaro tinha 1 filho de 4 anos para criar e Agnes estava grávida de gêmeos.
Palmeiras Segunda Academia |
Genaro viu a segunda academia de
perto, o time de Leão; Eurico, Luiz Pereira, Alfredo e Zeca; Dudú e Ademir da
Guia; Edú, Leivinha, Cesar e Nei. Esse time até hoje é um dos maiores da história
do Palmeiras.
Marcelo cresceu vendo Genaro vibrar com
as vitórias do Palmeiras e logo começou a se apaixonar pelas histórias e pelo
amor que Genaro tinha por aquele time cheio de glórias e conquistas. Ambos
escutavam os jogos juntos, sentados na mesa da cozinha aos domingos, após se
deliciarem com o fuzilli magnificamente preparado por Agnes, uma mãe que honrava
as tradições das mamas da Mooca.
- Ademir da Guia é o maior! – gritava
como um mantra o apaixonado Genaro.
Genaro levou Marcelo ao primeiro jogo
em 1975, e Marcelo ainda era um garoto de cinco anos, e viu o Palmeiras ganhar
dos maledetos do Jardim Leonor por 2 a 1, gols de Nei e Fedato.
Marcelo crescia e seu amor pelo
Palmeiras também. Em 1979, juntamente com seus irmãos, foi ao Pacaembu ver o
Palmeiras jogar contra o Juventus num agradável domingo de manhã. O Palmeiras
de Telê Santana goleou por 4 a 1 e, naquele dia, perante milhares de Palmeirenses, Marcelo
declarava para a multidão:
“ Palmeiras meu primeiro amor!”
Genaro, com lágrima nos olhos,
lembrou de Antonio, que naquele mesmo Pacaembu 20 anos atrás pegou seu filho no
colo, deu vários beijos no garoto como sendo o batismo alvi verde do garoto.
Depois daquele dia muitas emoções
foram vividas por Marcelo. Dentre elas muitas decepções, mas que nunca deixaram
aquele garoto perder seu amor e sua esperança na recuperação do Palmeiras.
As derrotas de 78, 79, 85, 86, 89, 91
deixaram fortes cicatrizes no coração de Marcelo e ao mesmo tempo só aumentavam
seu amor por seu time.
Palmeiras 1993 |
A redenção foi em 1993, no famoso
jogo contra os schifosi do Bom Retiro. 4 a 0 com show de Evair, el Matador.
Marcelo lembrou muito do seu nono Antonio e de seu velho pai Genaro quando
Evair bateu o pênalti e fez o gol que daria o título tão aguardado de Campeão
de 1993.
Ao voltar para casa Genaro, em
lágrimas, disse para aquele garoto que via seu time ser campeão pela primeira
vez: “ Esse título é para você meu filho. Eu torci muito para o Palmeiras ganhar,
para ver você gritar Campeones, como o nonno gritava pra mim".
O Palmeiras ganhou mais 12 títulos nos
anos 90. O mais importante foi a Libertadores da América. Um presente que
Marcelo nunca mais irá esquecer, pois o jogo acabou à meia noite, dia do seu
aniversário de 30 anos. Não tinha presente melhor para aquela data tão
especial.
Quase dez anos depois Genaro se foi,
deixando Marcelo com a mesma sensação de tristeza e um vazio no peito que
Genaro sentira após a morte de Antonio.
O Palmeiras novamente entrara num
período de poucas conquistas, sendo rebaixado para a série B, mas voltando com
dignidade, como Campeão, honrando sua história e sua vocação de sempre ser
protagonista.
No dia de hoje o quase centenário
Palmeiras completa 98 anos de vida. Uma história cheia de glórias, vitórias,
conquistas e emoções.
Emoções que estavam acumuladas pela falta de títulos nacionais e que explodiram em julho de 2012 com a conquista da Copa do Brasil. Recolocando o Palmeiras como maior ganhador de títulos nacionais da história.
Essa famiglia que acompanha o
Palmeiras, juntamente com os mais de 15 milhões de Palmeirenses que tem em seu
DNA o amor por esse time possui o seguinte lema em suas almas:
“ Nenhum Palmeirense de verdade torce
para o Palmeiras, mas sim é Palmeirense. Não importam as vitórias ou derrotas.
Nosso amor não é e nunca será a base de troca e sim de entrega!!”
Parabéns Palmeiras!!!
Excelente texto, como sempre. Parabéns Marcelo!
ResponderExcluirabs
@luizmousinho
Genaros, Antonios e Marcelos são palmeirenses sim, felizes, não da forma que mereciam, mas ainda assim, felizes!
ResponderExcluirParabéns pela aula da História do Palmeiras e por este texto, Bense!
Beijos!
Adriano paciello