A Saga
21/06/2012 - 18:50 Horas
Numa tarde/noite
chuvosa e fria e no dia que meu pai comemoraria 75 anos, eu, Danilo Nagaoka ,
meus irmão Luciano e Adriano saímos do Morumbi rumo à Arena Barueri para
assistirmos à segunda partida da semifinal da Copa do Brasil contra o Grêmio. Nosso
plano era chegar ao estádio por volta das 20:30 h já sabendo do transito pesado
da Castelo Branco e do acesso para o estádio ao sair da estrada. Nosso trajeto
era pegar a Raposo Tavares, depois o Rodoanel, Castelo Branco. Logo de cara, ao
pegarmos o acesso normal para a estrada já estava tudo parado e buscamos uma
rota alternativa pensando que era algum acidente próximo ao Km 15.
14/03/2012 - 21:50 Horas
O Palmeiras iniciava
sua campanha na Copa do Brasil de 2012 contra o Coruripe de Alagoas, com o objetivo
de conquistar o título. O plano inicial era vencer o primeiro jogo por mais de
2 gols de diferença e evitar o jogo de volta, conseguindo assim uma semana
livre para treinamentos e aprimoramentos. Logo de cara Barcos faz 1 a 0 mas o
time caiu de rendimento e, com o resultado, seria necessário a realização do
segundo jogo em São Paulo. No jogo de volta no dia 21/03 o Palmeiras ganhou por
3 a 0, jogando um futebol burocrático, e se classificou para a próxima fase da
competição.
21/06/2012 - 19:30 Horas
Após várias tentativas
de acessar a Raposo Tavares pelo Jardim Bonfiglioli e região, começamos a
perceber que o trânsito estava bem pesado e que poderia ser algum reflexo do
congestionamento na Raposo. Meu irmão Luciano “GPS” da Silveira tentou várias
alternativas até chegarmos ao acesso no Km 18 e a visão do inferno continuava,
a estrada continuava parada. Ligamos o rádio e nenhuma notícia a respeito da
estrada, só falavam de Av. Paulista, Brigadeiro, Rebouças e nada da estrada. O
site da CET congestionado, a rádio Sul América Transito estava com a “importantíssima”
transmissão da Hora do Brasil no ar, o programa mais retrógrado do Brasil, ao invés
de informar os motoristas sobre o caos que estava o transito na cidade.
Decidimos voltar tudo e pegar a Marginal Pinheiros pela Corifeu de Azevedo
Marques.
04/04/2012 - 21:50 Horas
Pela segunda fase da
Copa do Brasil, o Palmeiras jogaria contra o Horizonte do Ceará. O time do Palmeiras já havia perdido o embalo
das primeiras rodadas, sua invencibilidade de 22 jogos e já começava a gerar
desconfiança da torcida, necessitando de um GPS para voltar à rota do bom
futebol e das vitórias. Após vários gols perdidos o Horizonte abre o placar e o
time parecia perdido, até Leandro Amaro empatar o jogo ainda no primeiro tempo.
No segundo tempo, ainda com um futebol abaixo do que o time havia jogado no
início da temporada, em duas jogadas isoladas o Palmeiras fez mais dois gols e
venceu a partida por 3 a 1, eliminando a necessidade do jogo da volta. Mesmo com as perspectivas congestionadas de
pontos de interrogação, o time avança para as oitavas de final.
21/06/2012 - 20:00 Horas
Conseguimos chegar na
Marginal Pinheiros pela ponte Eusébio Matoso. Meus irmão já pensavam em desistir,
mas eu e o Danilo permanecíamos e fortes na nossa viagem. O que seria mais um
trajeto comum para um jogo importante começava a se transformar em uma saga. Eu
já imaginava que iria chegar ao estádio com o jogo começado. Acabara o Horário do Brasil e logo de cara a Rádio
Sul América informou que um caminhão havia batido em dois veículos na Raposo,
interditando toda a pista sentido interior, deixando um congestionamento de 12
km. Obrigado governo brasileiro por mais um desserviço ao povo paulistano, que
sofre a cada dia no transito devido ao descaso dos políticos da cidade
referente à mobilidade urbana de São
Paulo. Demos um pouco de sorte quando a polícia interrompeu um trecho da Marginal
para a passagem dos torcedores do Grêmio, deixando a pista livre para podermos
acelerar um pouco e tirarmos parte do nosso atraso.
25/04/2012 - 21:50 Horas
Após uma vexatória
eliminação nas quartas de final do Campeonato Paulista, ao perdermos para o
Guarani de Campinas por 3 a 2 com três falhas do Deola e com um comportamento
de time que quer derrubar o técnico, o Palmeiras foi a Curitiba enfrentar o Paraná
Clube pelo jogo de ida das oitavas de final. Assisti a aquela partida já
imaginando que poderíamos ter a mesma “sorte” do ano passado e tomar outra
goleada e sermos eliminado precocemente da competição. Conseguimos uma boa vitória por 2 a 1
deixando o caminho livre para uma possível classificação para as quartas de final.
No jogo de volta no dia 09/05, ganhamos por 4 a 0 e o time parecia que poderia
voltar a jogar um melhor futebol e poderia seguir mais longe na competição.
21/06/2012 - 20:30 Horas
Com o caminho livre,
tudo parecia conspirar para chegarmos a tempo de pegar o início do jogo até
passarmos o pedágio e encararmos um mar vermelho dos faróis dos carros. Vários
carros tentando passar pelo acostamento, a pista local da Castelo, também toda
parada. Imaginava que dessa vez não iríamos conseguir chegar a tempo. O mesmo
ônibus com os torcedores do Grêmio passou por nós novamente. O caos estava
formado. Após o Km 24, quando acaba a via local, o fluxo melhorou muito e
tentei tirar um pouco mais no enorme atraso que já se acumulava.
16/05/2012 - 19:30 Horas
O Palmeiras voltava a
Curitiba para enfrentar dessa vez o Atlético Paranaense pelas quartas de final.
Pela primeira vez um jogo mais difícil e com risco de derrota. Os primeiros 20
minutos de jogo foi um mar vermelho de jogadores do Atlético sobre o frágil e
perdido sistema defensivo do Palmeiras. Por muito pouco o adversário não abre
dois gols de vantagem, tanto era a velocidade e a facilidade de penetrar a área
do Palmeiras. Imaginava que o jogo poderia complicar a nossa classificação, mas
numa ultrapassagem pelo acostamento, Barcos empatou a partida. O Atlético ainda
faria o segundo gol em completo impedimento. Depois, o Palmeiras foi
prejudicado pela arbitragem em dois pênaltis claros não marcados. Após a
entrada de Luan e Maikon Leite, o time se encontrou e empatou o jogo num golaço
de Maikon Leite, tirando o atraso do primeiro tempo e levando esse resultado
para o segundo jogo com uma boa vantagem. No jogo de volta no dia 23/05, o
Palmeiras aproveitou a data e construiu sua avenida para a semifinal ao vencer
por 2 a 0 em boa atuação de Valdívia, Maikon Leite e Luan.
21/06/2012 - 21:00 Horas
Já em total desespero
eu via as luzes do estádio ao meu lado, ouvia o hino nacional e as entrevistas
pela rádio, via o mar de carros a minha frente no Km 30 do sentido Capital, já
imaginando que seria impossível chegar ao estádio por esse caminho. Torcedores
corriam entre os carros e pelo acostamento, transformando qualquer espaço em
uma via para chegar ao estádio. Ônibus com torcedores paravam para que eles
pudessem descer e conseguir chegar ao estádio. Um caos total. Carros parando em
qualquer lugar, em cima da grama, todos desesperados, sem saber quanto tempo
ainda tinham para chegar no estádio. Cenas
parecidas com o filme Independence Day. Vendo esse caos decidimos mudar a rota
e perguntamos ao Guarda Rodoviário se tinha outro acesso e ele nos informou
para pegar o acesso do Km 26. Em consenso concordamos que naquele momento, não
importava mais o horário, mas sim chegar ao estádio e assistir no mínimo o
segundo tempo. Nossa estratégia era seguir a luz dos refletores. A luz seria
nossa guia. Dessa forma conseguimos chegar ao estádio em 10 minutos. Foi a
melhor escolha que fizemos.
13/06/2012 - 21:50 Horas
Totalmente
desacreditado pelos seus desesperados torcedores, o Palmeiras vai para Porto
Alegre para a primeira partida da semifinal contra o Grêmio. Para grande parte
dos torcedores, seria impossível passar pelo adversário, ainda mais depois da
vexatória partida contra o Atlético Mineiro 4 dias antes pelo Brasileirão.
Seria um desastre, uma catástrofe, mais uma eliminação vergonhosa, o fim do
mundo. Felipão, ao perceber que o caos que se aproximava, resolveu tomar outra
rota, fechando a avenida que era a defesa do Palmeiras, congestionando o meio
de campo com Henrique como médio volante. Foi a melhor escolha. Como num passe
de mágica o time jogou uma partida soberba no sistema defensivo. Não parecia o
Palmeiras dos últimos jogos. Todos os jogadores concentrados, dedicados. Pouquíssimas
falhas foram cometidas e como premiação, fizemos 2 gols no final da partida,
conseguindo um atalho inesperado para chegar à final do campeonato. A Luz de
Felipão brilhou novamente e todos os jogadores seguiram essa luz com convicção
digna dos seguidores dos grandes Profetas da Antiguidade.
21/06/2012 - 21:30 Horas
Finalmente, após 150
minutos, chegamos ao estádio, já escutávamos no rádio que o jogo estava muito
pegado, mas sem muitas chances de gol. Os repórteres mencionavam que o estádio
não estava cheio e que ainda tinha muita gente chegando. Nos arredores do
estádio víamos os maratonistas Palmeirenses, empunhando suas bandeiras, sua fé,
seu amor, sua esperança , correndo pelas ruelas e avenidas para conseguir
chegar ao estádio. Paramos o carro, compramos 4 capas por R$ 10,00, pagamos os
R$ 20,00 de praxe para o “ guardador de carro” que serviu como GPS local
indicando um atalho pela ladeira para chegar mais rápido ao estádio. Danilo
narrava o jogo para nós, pois era o único que estava com rádio. Chegando perto
ouvimos uma vibração muito forte da torcida que reverberou em toda a região.
Foi na hora que o Arthur bloqueou o chute do J30. Agora não havia mais o que
nos impediria. Nossa saga estava chegando ao fim, depois de enfrentar parte dos
310 Km de congestionamento na cidade, chuva, tensão e a tentação de desistir.
Tudo por causa do amor que carregamos em nossos corações pelo nosso Palmeiras.
21/06/2012 - 22:00h - 23:00h
Tenho 37 anos de
estádio e nunca em minha vida tinha entrado no estádio depois de 10 minutos de
jogo. Foi a maior saga da nossa vida para chegar a um jogo do meu time. Mas
tudo vale à pena quando nosso amor pelo Palmeiras não é pequeno.
Após passar pelas
catracas, que estavam livres obviamente, subirmos todos aos lances de escada
até o setor C, finalmente nos encontramos com o Palmeiras em campo e concluímos
nossa saga juntos. O que pudemos presenciar, compartilhar, sentir, vibrar e se
emocionar valeu cada centímetro desde a saída da casa do meu irmão.
Vimos uma defesa que
quase ninguém passa, uma linha e um atacante de muita raça e uma maravilhosa torcida
que canta, empurra, sofre para chegar, vibra , ama e é Apaixonada pelo
Palmeiras, que foi e sempre será meu Primeiro Amor.
Obrigado Felipão,
Bruno, Arthur, Maurício Ramos, Tiago Heleno, Juninho, Marcio Araújo, João
Vitor, Henrique, Daniel Carvalho, Barcos, Mazinho, Valdívia, Leandro Amaro pela
dedicação, superação, força e garra que vocês demonstraram em campo nessa inesquecível
noite chuvosa de 21/06/2012.
Tenho certeza que Meu
Pai lá do céu, um ilustre Palmeirense, chorou de emoção no dia do seu
aniversário, que merecia ser coroado com um presente Alviverde. Junto com suas
lágrimas de alegria, todos os Palmeirenses imortais lavaram as nossas almas,
retirando da aura Palmeirense o espírito de derrota e pessimismo que reinavam
ao nosso redor, transformando a lealdade em padrão, ressurgindo do gramado
molhado da batalha, a aura de um PALMEIRAS CAMPEÃO!!
Parabéns Paciello. Emocionante relatos.
ResponderExcluirGrande abraço,
@luizmousinho
Meus pés ainda estavam molhados, meu corpo ainda doía pela tensão em chegar.
ResponderExcluirMas não sei se quem empurrou o time às finais, se Valdívia ou a teimosia do Marcelo.
Excelente texto e feliz por ter participado da saga de quinta-feira.
Parabéns, Bense, mais uma vez!
Adriano Paciello
Excelente texto Marcelo,exemplificou bem aquela noite de quinta feira.Saga!!
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