Transformando o Torcedor em Consumidor



Nessa semana que passou mais uma vez houve vários debates e opiniões referentes ao caminho que o produto futebol está tomando no Brasil e qual deve ser o melhor caminho a ser seguido.
Esse tema recorrente é um grande desafio para futuro do Futebol Brasileiro, em sua forma mais ampla possível. Quando me refiro ao produto Futebol, eu o imagino como um produto sendo consumido em suas várias possibilidades como:
- Estádio / Bilheteria: ingressos (jogos de futebol, shows, espaço de convenções), lojas de conveniência, camarotes, lojas de produtos oficiais, restaurantes, estacionamento;
- Mídia: direitos televisivos em TV aberta  e pay per view, internet, celular, redes sociais;
- Merchandising: licenciamento de produtos, programa de sócio torcedor, lojas oficiais (virtuais e físicas), associação da marca do time com grandes marcas do mercado;
Para se maximizar as receitas,  baseando-se nos 03 pilares acima, os times de futebol deveriam ter:
- equipes competitivas, sempre em condições de disputar títulos;
- ídolos capazes de atrair público para o estádio e criar produtos do clube associando o jogador à marca;
- revelar jogadores nas categorias de base, pois os mesmos automaticamente já terão uma identidade com o clube;
- gestão profissional no departamento de futebol

Como primeira reflexão sobre os pilares acima citados, quais clubes brasileiros estão trabalhando de forma profissional e com resultados que comprovem uma boa gestão do produto Futebol no Brasil?
Uma resposta muito difícil de responder mas, devido aos resultados dentro e fora de campo nos últimos 03 anos, eu considero que o Santos e o Internacional são os que melhor estão conseguindo ter resultados, ainda mais devido ao tamanho de suas torcidas em comparação aos 5 principais times do Brasil ( Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco).
Convido você a avaliar juntamente comigo os valores e as fontes de receita das 5 principais equipes da Europa e do Brasil e fazer uma análise das principais causas ou consequências.
Primeiro vamos a relação Top 5 europeus ano base 2010/2011 :

1)      Real Madrid  * € 479 milhões ( 30% Bilheteria / 36% Mídia / 34% Merchandising )
** 31 milhões de torcedores na Europa
2)      Barcelona * € 451 milhões ( 25% Bilheteria / 44% Mídia / 31% Merchandising )
** 58 milhões de torcedores na Europa

3)      M. United * € 367 milhões ( 35% Bilheteria / 37% Mídia / 28% Merchandising )
** 31 milhões de torcedores na Europa

4)      Bayern  * € 321 milhões ( 21% Bilheteria / 26% Mídia / 53% Merchandising )
** 21 milhões de torcedores na Europa

5)      Arsenal   * € 251 milhões ( 42% Bilheteria / 38% Mídia / 20% Merchandising )
** 20 milhões de torcedores na Europa
Fonte:   *Deloitte 
           **Sport Markt

Vamos comparar as receitas  Top 5 brasileiros em 2011. Como não tenho dados de renda detalhados como os dos clubes europeus, seguem os principais motivos dos incrementos de receita:
1)      Corinthians * € 120 milhões ( TV e venda de jogadores )
** 25 milhões de torcedores

2)      São Paulo  * €   94 milhões ( TV, patrocínio, licenciamento,  estádio, clube social )
** 16 milhões de torcedores

3)      Internacional  * €   82 milhões ( TV, bilheteria, patrocínio, sócio torcedor, licenciamento)
**06 milhões de torcedores

4)      Santos  * €   79 milhões (TV, bilheteria, patrocínio, venda de jogador, cotas )
** 05 milhões de torcedores

5)      Flamengo *    77 milhões ( TV e venda de jogadores, clube social, esportes amadores )
** 29 milhões de torcedores
Fonte:  *BDO 
          **Pluri Consultoria

Avaliando os dados acima é possível comprovar o quanto os clubes brasileiros estão distantes das arrecadações dos clubes europeus. Sabemos que o poder aquisitivo e os valores de cotas de TV, bilheterias e produtos licenciados são maiores na Europa em comparação ao Brasil. Também é  importante ressaltar que  existe um potencial enorme a ser explorado no Brasil,  caso os clubes profissionalizem o departamento de futebol visando uma revolução na gestão esportiva dos mesmos.
Baseado nos números acima, o Corinthians seria o único time brasileiro a integrar o Top 20 dos clubes europeus, mas somente na posição 19, apenas na frente do Valência da Espanha ( € 117 milhões ) e do Nápoli ( € 115 milhões ). Muito pouco para o país que se vangloria de se autointitular “O País do Futebol”. Eu costumo mencionar que o Brasil é “ O País do Jogador de Futebol” pois saindo das 4 linhas o Produto Futebol no Brasil é muito mal explorado.
Precisamos transformar o torcedor em cliente consumidor no Brasil, não somente cobrando por ingressos , pay per view e camisas dos times com valores de nível Europeu mas sim, explorando de forma profissional, todas as possíveis e inexploradas fontes de receita nos 03 pilares citados no início deste post.
Para que esses potenciais se transformem em realidade é preciso que os clubes se profissionalizem de verdade, transformando-se em empresas, com profissionais competentes na gestão do futebol em todos os seus produtos e serviços como:
- transformar os estádios em arenas multi-uso :  cadeiras demarcadas e confortáveis, camarotes, estacionamento, restaurante, conveniência, podendo competir com outros entretenimentos da cidade ( cinema, teatro, shows)
- melhorar a gestão financeira: rever dívidas de curto prazo, melhorar fluxo de caixa, administrar a dívida de acordo com a receita.
- aumentar fontes de receita: sócio- torcedor, licenciamento de produtos, jogar em outros centros consumidores de futebol para expor e internacionalizar a marca, vender produtos via internet, transmissão de jogos para outros centros.
Acredito que com a profissionalização, as ligas sejam o primeiro caminho para se adequar as receitas com o número de jogos e torneios a serem disputados que realmente gerem receitas significativas para os clubes, fugindo da atual situação de refém das TVs e das federações que exigem que seus interesses sejam atendidos em detrimento da qualidade do espetáculo a ser oferecido ao torcedor/ consumidor, exemplo: calendário diferente dos europeu, campeonatos estaduais cada vez desinteressantes, desvalorização do Campeonato Brasileiro ao se iniciar com os principais times focando em outras competições ( Copa Libertadores / Copa do Brasil ).
Creio que a Copa do Mundo no Brasil pode iniciar de forma mais concreta essa mudança de atitude e comportamento na gestão esportiva no Brasil e que esta não deve ser a única esperança para esta mudança de patamar. Espero que todos os apaixonados por futebol, que são profissionais de alta qualidade mas ainda não trabalham no segmento, possam conseguir em conjunto com os atuais profissionais do segmento esportivo essa mudança de patamar e realmente transforme os clubes de futebol em verdadeiras fontes de entretenimento e consequentemente, de receitas, para todos os envolvidos nesse verdadeira paixão nacional que é consumir futebol.



















Comentários

  1. Também entendo que nossos administradores do futebol, ainda tem uma mentalidade amadora.
    O clube ainda é dirigido pessoas escolhidas pela paixão ao clube antes da competência.
    Por isso temos clubes de futebol falidos por todo lado e em qualquer canto do Brasil. Os clubes pequenos depende do poder publico para sobreviverem e os grandes tem que contar com ajuda de recursos públicos para resolver seus problemas de estádios.

    Nivan Gomes
    Profissional de futebol
    EX - DIRETOR DE RELACIONAMENTOS INTERNACIONAIS
    SOCIEDADE ESPORTIVA MATONENSE - MATÃO SP

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  2. Muito bom o texto, real e reflexivo.

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